20 de jun. de 2010

O Garanhão no lugar de Anelka

Nesses últimos anos de Copa do Mundo, a França nunca esteve tão mal na foto como agora lá na África. A coisa ficou apimentada para o lado do técnico Domenech depois daquela traulitada do México por 2 x 0. Parecia até que os franceses tinham comido o que sobrou dos Camarões esmigalhados pela Dinamarca.

Nos vestiários, o atacante Anelka - que, como todo o time, estava precisando mais de Entero-Vioforme do que de Iodex - resolveu escalar o treinador como alvo de palavras de altíssimo calão: - Vai pra planfa que te lamblanfa, filho dessa-filho daquela!

Aí, quem foi, foi ele. Ao que tudo indica, o levante promovido na surdina por Zidane está deixando de ser a tática mais eficiente da França nesta Copa.

É como pondera o sagaz Garanhão de Pelotas: - Ainda bem que essa seleção de Dunga não vai enfrentar a França. Só assim não corre o perigo da tal troca de camisas no fim do jogo. Perfume de francês suado é de matar!

Brincando, brincando, o Garanhão sentiu um frio na espinha. Suas origens galesas e seu sangue bleu quase o fizeram entrar em campo no lugar de Nicolas Anelka. Mas sua cáustica porção lulo-esperteza falou mais alto e o dissuadiu da aventura.

Foi até bom, porque ele acabaria chamando o tal de Domenech de tudo o que Anelka o chamou. Preferiu não dar uma cabeçada daquelas, numa hora dessas. Até porque, o Garanhão de Pelotas não entra em fria, assim sem mais nem menos. Sabe que, sem Zidane em campo, a França não ganha de ninguém.

- É capaz até do outro Nicolas, o Sarkozy, nem vender mais aqueles caças para o nosso presideus Lula, o Cara que agora quer ser chamado de Dilma - conjeturava nosso correspondente na África, quando tilintou o telefone.

Estava ainda de chambre, já com sua camisa Volta ao Mundo lavada de véspera com anil e vestindo ceroulas sedosas, o Garanhão interrompeu a azáfama de colocar os carpins de buclê e pegou o aparelho telefônico em cima do bidê. Remoeu alguns rápidos cumprimentos e, sem mais delongas, foi direto ao assunto:

- Sinto muito declinar de seu convite, Domenech, mas estou saindo agora mesmo para o campo de aviação para pegar o aeroplano. Vou ver a porfia do time dungoso contra os marfineses - e desse jeito descartou qualquer possibilidade de jogar ao lado de Thierry Henry na próxima e lamentável contenda a ser perdida pela França.

Nem fez o desjejum. Pegou seu Vick Vaporub, sua indefectível latinha de Pastilhas Valda, chamou o carro de praça e se mandou. Tinha mais o que fazer do que jogar pela França.

Antes de entrar na aeronave, ainda verificou se tinha colocado nos bolsos o seu Bellergal e o inseparável Alka-Seltzer... Já faz quase quatro anos que o time de Dunga o deixa estressado e com azia.

VOO RASANTE

Em meio às nuvens de brigadeiro africano, o Garanhão de Pelotas degustava uma salada de frutas da estação com Grand Marnier, depois de ter se deliciado com uma oportuna porção de camarões ao mojito com abacaxi.

Aproveitava o tempo que tinha até chegar às tribunas de honra do estádio onde os dungosos se exibirão contra o insignificante time da Costa do Marfim, para selecionar algumas considerações abestadas sobre os últimos acontecimentos. E foi colocando meia dúzia delas por ordem numérica na sua instigante agenda de bordo:

01. Kaká que não entrou no jogo nessa Copa não pode sequer reclamar da bola. Perde o lugar no time e o patrocinador.
02. Dunga defendeu a má fase de Kaká: "Ele vem de uma lesão...". Sim, sim e aí então, leva Josué ao invés de Ronaldinho Gaúcho?!?
03. Depois que Dunga abraçou Lula passou a ter azia quando lê jornais... Isso pega.
04. Essa jabulani banalizou a trivela. Já não há mais tiro direto. Tudo sai de curva.
05. É impressionante como Luiz Fabiano fez gol nessa Copa. Marcou em todos os comerciais de TV.
06. O que Claudio Coutinho fez com Falcão em 78, Dunga fez com Ronaldinho em 2010. Josué está para Dunga, como Chicão esteve para Coutinho.