29 de jul. de 2011

O PISIQUIATRA E DONA DOLORES SIERRA MAESTRA

E lá estava no divã o Dr. Jekill Viktório Freud Frankl - alter ego do Garanhão de Pelotas em dias que ele assume a sua porção pisquiatra de dar com pedra, quando a mais loira das suas três secretárias executáveis intercomunicou-se:

- Dr. Viktório, sua paciente, dona Dolores, já está na sala de espera.
- Daqui a cinco minutos, pode encaminhá-la para o estúdio de consultas.

O cérebro do nobre psiquiatra entrou em ebulição. Parecia que sua cabeça ruminava como se fosse a Patagônia. Sua cliente, Brujita de las Dolores Sierra Maestra, era uma legítima Tierra del Fuego, gélida e quente a um só tempo, perigosa como ela só.

O Garanhão precisava concentrar-se, assumir logo a personalidade do Dr Jekill que era também Viktório, um pouco Freud e, não raro, Dr. Frankl também. Dolores Sierra Maestra era um caso raro de multiplicidade sobre-humana, super humana, sobrenatural em termos de fetiches e magias no terreno das instabilidades emocionais.

Em quatro minutos e meio, dominou a mente e os nervos e dirigu-se ao estúdio. Dolores Sierra Maestra lá estava, recostada languida e linda no vasto, confortável divã de couro de bezerro alemão, que acabava sempre revestido por um aconchegante e convidativo pelego.

Mantidas as devidas e adequadas distâncias entre médico e paciente, o Garanhão de Pelotas, usando a entonação britânica da voz do Dr. Jekill Viktório Freud Frankl, iniciou a sessão que não tinha hora para acabar de relaxar. Nem de gozar.

- Fale o que lhe vem à cabeça...
- Parafilia, Sadismo, Bondage, Fetichismo, Voyeurismo, Exibicionismo, Podolatria... Ei, doutor, onde foi que você comprou esses sapatos? Eles são liiiindos!
- Em Frankfurt, dona Dolores. Em Frank.... Ora, componha-se dona Dolores. Continue, por favor...
- Tá bem, doutor, mas seus pés... Tá bem, tá bem... Coprofagia, incesto, Coprofilia, Necrofilia... Nããããão! Necrofilia foi mal, doutor. Ato falho, ato falho!
- Prossiga, dona Dolores. Só palavras secas, curtas...
- Urofilia, Estupro, Assédio, dupla penetração... Ai, doutor dupla penetração é grande, né não? Tire fora, dupla penetração não vale. Falei demais.
- Siga, dona Dolores Sierra, siga.
- Pois então... Masoquismo! Masoquismo! Masoquismo, doutor!

E, sem conter-se mais, atirou-se sobre o Garanhão de Pelotas que, de jaleco e tudo, estava recostado no seu divã, também de couro e já revestido por igual ao outro, com um enorme e aconchegante pelego. Beijaram-se com sofreguidão.

Ele, do alto de sua frieza profissional, deu uma volta completa no corpo, deixando Dolores Sierra Maestra sob seu corpo. Levantou-se, estendeu a mão à escrivaninha ao lado e de lá muniu-se com um látego, um chicote, um rebenque, o popular relho de dar surras em gaúchos de todos os sexos, daqueles mais atrevidos.

Desancou relhaços de paixão em Dolores Sierra Maestra que tinha as costas largas e não dava um grito; só gemidos de gata mais braba do que manhosa, e miava de tal forma que seu maullidos só não partiam o coração do médico-monstro porque lhe provocavam um tesão que não sabia explicar e que, muito menos, o deixavam parar com aquele pequeno flagelo fingido de amor compartilhado.

De relhaço em relhaço, rasgou as vestes de Dolores e jogando fora as próprias roupas, invadiu-a na frente, mas por trás como se só existisse aquele espaço livre no universo do seu corpo.

Comeu-a com todo o seu rigor e ela, devorou-o com toda a sua falta de pudor. Bom tempo depois, já sem apetite, os dois saíram cambaleantes do pelego ensuarado e se higienizaram na Jacuzzi do gabinete ao lado.

Ele foi ao armário e renovou sua vestimenta de psiquiatra compenetrado e conscio de seus deveres profissionais; ela buscou no vestiário feminino um conjunto exatamente igual ao que vestia quando chegou à sala de espera de mais uma sessão de terapia intensiva.

Recompostos, os dois foram para a ante-sala do médico que, aos poucos foi assumindo os jeitos e trejeitos do Garanhão de Pelotas. Dolores Sierra Maestra, maquiada outra vez e bonita como sempre, aprumou-se para sair. Antes que se levantasse para ir embora, o Garanhão recostou-se outra vez, já no seu terceiro divã e lhe dirigiu uma última ordem:

- Diga agora o que lhe vem à cabeça.
- Eu te amo, Garanhão.

Despediram-se num adeus que duraria só até o amanhecer do outro dia. Ele se recolheu à solidão do seu consultório. Ela passou, linda de morrer, pela secretária loira. E como sempre, não pagou a consulta. Afinal, ela era sócia nas clínicas do doutor. De todas as clínicas e negócios do Garanhão.

MORAL DA HISTÓRIA - De médico e de louco, todos nós temos um pouco. Ou... é delicioso estar louco só por pouco tempo e dar por certo tudo quanto é louco o bastante para ser bom.

NEM SEMPRE O PASSADO É TEIMOSO

Depois de mil anos, o Garanhão de Pelotas  se encantou pelos olhos de uma gata de cabelos pardos, uma gata leo/parda, para ser bem franco. Uma tigresa, com certeza. E nessa fase de amor, sempre que se encontravam tinham mil histórias, claro, para contar.

Entre eles, o passado relutava em manter sua verdadeira identidade, estava sempre presente.  E, não raro, o melhor das recordações que repartiam, é que elas nem eram assim tão verdadeiras. Alguns sonhos, assim como alguns filmes, haviam mudado de enredo.

Muitas coisas que repassavam e até muitos lugares que revisitavam, tinham mudado de cor, de tamanho, de estilo, de clima; em alguns bares, até de dono.

O próprio Conjunto Nacional já não era mais - apesar da revitalização - o maior shopping da América Latina.

Naquele início de noite, resolveram revisitar o velho e gostoso paraíso dos salsichões bávaros, o tedesco refúgio Fritzlang - numa das reentrâncias da Asa Sul que poderia ser chamada até de uma esquina de Brasília. Escolheram a mesa do canto lá do fundo, à beira do balcão que fazia fronteira com a boca da rua de movimento escasso.

Foram lá no velho Fritz rebuscar história, revirar passados, recapturar antigos bons momentos de vida que um e outro haviam desfrutado em outras queridas companhias. O passado não lhes despertava nenhum ciume. A não ser quando se transformava em presente. Quando o ontem vira hoje, ganha vida e mexe com a gente.

Os primeiros passos no Fritzlang revelaram ao Garanhão e à Tigresa que o lugar já não era mais o mesmo: menos charme, menos gente, menos algaravia, mais restaurante do que um bar legítimo da Bavária... Os rostos já não eram mais os de ontem; o pessoal de hoje ali da casa, muito menos.

Acomodaram-se. Veio o garçom. E foi. A entrada foi de beringelas recheadas de tomates desidratados. Um uísque com três pedras de gelo em uma dose chorada acima do nível do lago Paranoá para ele; um xarope light com o sigilo da Coca, para ela.

Antes que o garçom partisse, em busca dos filés de frango com salada à moda germânico-pioneira social, o Garanhão de Pelotas - meio em desencanto - provocou, sarcástico, o serviçal:

- Agora vamos querer refrigerante. Duas Cocas, com gelo e limão. Mas... Copo limpo, viu?

Pouco depois, o garçom chegava com o pedido: os frangos à milanesa, a salada e dois copos. Com a mesma gentil e estudada indiferença profissional que mantém os garçons à recomendável distância da clientela, ele quis saber:

- Foi o senhor, ou a senhora... Qual dos dois pediu copo limpo?

E sentindo-se vingado, afastou-se com um sorriso de hipocrisia na cara. O Garanhão  e seu bem-querer tiveram ali mesmo, naquele momento, a certeza de que nem sempre o passado é teimoso quanto a sua essência e não consegue estar presente. O Fritzlang de hoje não é nem sombra do Fritz de ontem.

MORAL DA HISTÓRIA - O melhor profeta do futuro é o passado... Ou, os que não se recordam do passado, estão condenados a repeti-lo... Ou, o tempo não perdoa nada daquilo que se faz sem ele. Ou, ainda...

28 de jul. de 2011

O GRANDE CAUSÍDICO

Naquele meio de manhã, no amplo gabinete de seu escritório de advocacia, o Garanhão de Pelotas  teve que interromper a mais perfeita imitação de Monica Lewinsky que sua secretária ruiva para assuntos orais praticava, para atender ao interfone.

Rearranjando-se com a languidez de quem já havia seguido o velho conselho de Marta Suplicy aos infortunados habitantes de aeroportos brasileiros, o Garanhão  quis saber quem estaria precisando de seus préstimos jurídicos. Enquanto a ruiva se esgueirava por uma das três portas da luxuosa sala, o grande consultor ajeitou a gravata e prestou atenção:

- É um senhor que lida com carnes de alta qualidade... Deseja uma consulta.
- Dê-me trinta segundos e faça-o entrar - ripostou, pensando tratar-se de alguém assim como um executivo da Friboi, ou uma das tantas extensões do Grupo JBS, gigante mundial do comércio de carnes, organic beefs, ou coisa que o valha.

Em meio minuto, o Garanhão de Pelotas  despertou o grande causídico que existia dentro dele. Ficou logo descortinando horizontes em que se via defendendo os interesses daquela que é uma das maiores empresas do mundo em processamento de proteína animal.

Viu-se atuando na defesa das áreas de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas. E até viajou um pouco na maionese: começaria a viajar por todos os continentes; visitaria plataformas de produção e conheceria os escritórios desse novo cliente - com lobistas de quem já andara falando tempos atrás - localizados no Brasil, Argentina, Itália, Austrália, EUA, Uruguai, Paraguai, México, China, Rússia e dezenas de outros países.

Saiu do sonho para a realidade, quando viu uma figura simples, bem arrumadinha e coisa e tal adentrar o seu recinto sagrado de grandes causas e maiores negócios. Nem levantou-se da escrivaninha de madeira-de-lei. Apenas fez um sinal para que o cliente lhe dissesse o que queria. E se dispôs a ouvir a razão da consulta:

- Doutor, se um cachorro roubar uma peça de grande valor do meu açougue, o dono dele é responsável?
- É.
- Então, doutor, passe pra cá 450 reais, porque foi o seu rottweiler que roubou a carne.
- Muito bem. E o senhor, por favor, ao sair deixe um cheque de R$ 2 mil, ali com a minha ex-secretária para pagar esta consulta!

O Garanhão  desviou os olhos do grande cliente para a tela do computador, deu-lhe as costas e ainda escutou a porta do gabinete se fechar abafando o som de uma imprecação indignada. Esperou um minuto. Usou o interfone:

- Dona Maria Auxiliadora!
- Pois não, doutor...
- Você está despedida!!! 

Em seguida, comunicou-se com a sala ao lado. Coisa de cinco minutos, não mais, a secretária ruiva era nomeada para o lugar de Maria Auxiliadora. Enquanto ela se acomodava nas novas funções, uma secretária morena escultural se encaminhava para o gabinete do chefe. O Garanhão  queria falar com ela.

Segundo a morena susssurrou en passant para a nova secretária, o assunto tinha alguma coisa a ver com um cliente que lidava com cavalinhos aloprados e ele precisava praticar um pouco, antes de tratar diretamente com o patrocinador da ação.

MORAL DA HISTÓRIA - Onde e quando não há negócio, nasce a libertinagem.

27 de jul. de 2011

O GARANHÃO DÁ AS CARTAS EM MONACO

No pub do Luxury Hotel, no Principado de Mônaco, o Garanhão de Pelotas  e a ruiva de suas três inseparáveis secretárias executáveis, encontaram os amigos Henry e Colette que haviam conhecido em Paris, na semana anterior.

Sorveram seus Dry Martinis como se fossem os últimos e resolveram ir para o Cassino Monte Carlo. Pouco depois, lá estavam jogando black jack e, um pouco de bacarat, para depois se dedicarem a um carteado a quatro, numa digníssima e exclusiva mesa redonda.

De repente, o Garanhão  deixa cair umas cartas no chão. Ele se dobra pra baixo da mesa para pegar as cartas. Confirma o que já suspeitava:  Colette, mulher de Henry não está usando calcinha.

O Garanhão  emerge à mesa do carteado e, sem demonstrar qualquer sinal de distração ao jogo, segue a parada. Pouco depois, dirige-se ao balcão do bar com a desculpa de pegar mais um Martini. Colette, logo surgiu ao seu lado. Antes de pedir seu drink ela sussurrou coquete:

- Você viu algo interessante debaixo da mesa?
- Eu pagaria 50 mil dólares para ter o que vi.
- Pode ser seu, por 50 mil dólares!

O nosso espadachim de folheto confessa o seu interesse. Logo combinam um encontro para a tarde de sexta-feira da semana seguinte, quando - eles sabiam - o Garanhão  estaria na dele e Henry num encontro marcado com o príncipe Louis Maxence Bertrand, no castelo das Grinaldas.

Na sexta-feira marcada, o Garanhão  vai com tudo e, depois de fazer coisas do arco da velha e de muito roncar e fuçar por entre os lençóis de percal, pagou e não bufou a Colette os 50 mil dólares combinados. Despediram-se apaixonados, como se nunca mais fossem protagonizar um novo encontro.

Lá por volta das sete horas da tarde já com jeito de noite, Henry chega à suíte presidencial que ocupava com sua Colette no Luxury e, ainda na sacada de sua suíte, esbraveja e grita com a mulher:

- Garanhão  esteve com você, hoje de tarde?

Colette, relutante e quase indecisa, responde que sim. O marido quis saber mais:

- E ele lhe pagou 50 mil dólares?
- Quiospariu! Ele sabe de tudo - pensou Colette. E sentindo-se perdida, não se animou a negar:
- Sim, ele pagou. Pagou 50 mil e de boa vontade.
- Orra, que alivio!  Na semana passada ele me pediu 50 mil dólares emprestados e me prometeu de pé junto que os pagaria hoje mesmo, sem falta. Passe, passe pra cá logo os meus 50 mil.

MORAL DA HISTÓRIA - Business is business, ou em matéria de dinheiro, engana os demais, porque senão eles te enganarão.

26 de jul. de 2011

O GARANHÃO ADOLESCENTE NO EGITO

Sabe-se lá como e quando - que faz muito tempo, faz - o Garanhão de Pelotas  foi parar no Egito. Era adolescente ainda. Suas mãos eram maiores do que seus bolsos. Gostou tanto daquelas paragens que resolveu ficar um bom tempo mais lá pelo Cairo. Queria exercitar seu jeito árabe de ser. A capital da República era um verdadeiro harém a céu aberto.  Para ficar, vendeu a passagem de volta da Egipt Air e garantiu uma vaga de guia num dos museus da cidade.

Pouca prática, mas expedito comme d'habitude, não se apertava no fino trato que dispensava aos turistas. No fundo, no fundo sabia que os visitantes, por mais que soubessem da história daquele mundo fascinante, sabiam ainda menos, muito menos do que ele.

Não se apertava em nada. Se os turistas queriam saber se ele sabia falar francês, ele perguntava se eles não sabiam falar espanhol, inglês, árabe, ou coisa que valha. Usava um lenço para cada choro. Quanto à história antiga, então, era um mestre.

Certo dia, uma turista lisboeta quis saber do simpático e atencioso guia que figuras eram aquelas que ali estavam em seus esquifes, uma ao lado da outra:

- Que múmia é esta?
- Esta é a múmia de Cleópatra, minha senhora.
- E aquela menorzinha ali?
- Ah sim, aquela é a mesma Cleóptara, quando era criança.

E assim, saltitante e esperto, conseguiu manter-se no Cairo por uns bons dois ou três anos de sua juventude transviada. Dali foi para o Marrocos, mas isso já outra história que só quem pode contar é o pessoal da Legião Estrangeira.

MORAL DA HISTÓRIA - Para o Garanhão de Pelotas, a História sempre foi, na verdade, o reino da mentira.

25 de jul. de 2011

O GARANHÃO NO COQUETEL

O coquetel no Centro das Indústrias estava em plena efervescência. Como sempre, para marcar sua presença, o Garanhão de Pelotas  estava chegando propositadamente atrasado a mais um encontro da alta roda citadina.

Elegante, bem trajado, boa pinta, charmoso e com o seu mais tradicional andar de nobreza displicente, atraía os olhares encantados das mulheres e uma ponta de inveja dos senhores dos anéis daquela boa parte da elite esfusiante.

Duas socialites interromperam as futricas que permeavam seus Dry Martinis e, sem dar qualquer importância para os respectivos maridos a seu lado, voltaram sua atenção para o nobre que adentrava o salão. Foi quando se deu o lépido e faceiro comentário:

- O Garanhão de Pelotas se veste bem, não?
- E depressa, também...

Um dos maridos escutou os fuxicos das duas damas. Seu casamento nunca mais foi o mesmo.

MORAL DA HISTÓRIA - Não fales, de maneira alguma, a não ser que tenhas algo que não podes calar.

24 de jul. de 2011

UMA ESPINGARDA POR UM ROLEX

O Garanhão de Pelotas  morou muitos anos cercado pelo Mediterrâneo, mais precisamente em Palermo, por acaso capital da Sicília, por pura coincidência berço da Máfia. Foi lá que aprendeu o ofício de ser consultor de grande porte dos governos brasileiros desses últimos anos.

Por isso mesmo, nuncanahistoriadessepaís ele deixou de ser um pai zeloso e guardador de seus filhos, seus heróis, seus herdeiros. Sempre que descansava do duro ofício de lobista das coisas da vida pública que botava na privada, o Garanhão  se recolhia ao doce aconhego do lar.

Sempre volteado por sua esposa de ocasião, suas indefectíveis três secretárias executáveis e pela filharada que produzia aos borbotões, posto que grana para a sua manutenção não era problema, o Garanhão  era um exemplar chefe-de-famiglia.

Quando seu filho mais moço - naturalizado italiano como toda a prole - completou a maioridade, o nosso corruptível consultor republicano, deu-lhe de presente, como era hábito em Palermo, uma espingarda calibre 12 de cano serrado.

Passado bom tempo, libertando-se momentaneamente, num desses finais de semana, da azáfama de agradar a gregos e troianos nesse Brasilzão que os últimos governos transformaram num enorme cabungo, o Garanhão de Pelotas, a bem de conversa com seu caçula bem educado, quis saber por onde andava a espingarda.

O garotão, sempre delicado demais para o gosto paterno, disse com voz fina e melodiosa, cheia de admiração e certos temores pelo duro genitor:

- Troquei por um Rolex, meu pai.

O Garanhão  saltou fora das calças, perdeu as estribeiras e só não livrou-se das cuecas porque, mais do que um trabuco ou coisa parecida, podia haver restos de dólares por ali que ainda não tinham sido encaminhados aos devidos destinos:

- Desgraciato! Uma espingarda por um relógio!
- Ma é de oro, signore.
- É um relógio, porca pipa! Quero só ver o quê você vai fazer no dia em que um patife qualquer le chiama putana la tua mama. Que cosa fa?!? Em vez de lhe dar um tiro, você vai dizer pra ele que são 3 horas da tarde?!?

MORAL DA HISTÓRIA - Nada mostra melhor a pesonalidade de cada um do que a maneira de comportar-se.

TEMPORADA RURAL DO GARANHÃO

O Garanhão de Pelotas  dedicou mesmo esta semana para as suas vicissitudes ruralistas. Depois de aturar os discursos de palanque, das tradicionais aberturas políticas das feiras de gado que rondam o país, o nosso herói circundava os estandes de produtos em consreva, compotas e outras delícias da terra expostos à visitação pública.

O Garanhão passeava pelos caminhos da Expo-Feira citadina sob a escolta de sua loira secretária executável. A ruiva e a morena tinham ficado na Estância do Garanhuns-Bem-Querer, cuidando dos preparativos para mais uma churrascada de fogo de chão, prevista para o dia de amanhã. Coisa de 500 espetos para mais de 2 mil convidados da mais fina flor da sociedade - que o Garanhão não mija em guampa, tchê.

Conselheiro da Associação Inter-americana Aberdeen Angus, ao sair daquele pavilhão, rumo ao circuíto dos leiloeiros, pronto para dar o maior e melhor lance pelo Touro Sentado, campeão mundial da nobre raça bovina - melhor, taurina - o Garanhão segurou sua loira acompanhante pelo braço, salvando-a de ser atropelada por uma carroça cheia de adubo que se dirigia, já atrasada, para um dos locais de exposição-viva de produção agrícola. Um canteiro de produtos da terra que, tal e qual uma obra do PAC, não fora concluído a tempo.

Ela, ainda que agradecida, não deixou de ser crítica e curiosa:

- Que coisa horrível. Que cheiro pavoroso é esse, meu amo?!?
- É esterco para pôr nos morangos.
- Nooossa! Lá em casa a gente usa chantily!!!

MORAL DA HISTÓRIA - Quando uma loira é bonita, ainda que seja só isso, já é dotada o quanto basta para ser uma boa e vistosa secretária.

23 de jul. de 2011

AMY WINEHOUSE ENCONTRADA MORTA

A cantora mais poplouca da música britânica tinha 27 anos foi encontrada morta às quatro da tarde (horário local) na sua casa, em Londres. Isso mesmo, assim como você, todos acham que foi por overdose. Winehouse veio uma única vez ao Brasil. Foi em janeiro para realizar uma série de shows. Deixou por aqui um rastro de bons espetáculos, droga, bebida e rock'n roll.

O GARANHÃO NA SUA EXPO-FEIRA

O Garanhão de Pelotas  amanheceu com pendores rurais. Levantou-se, abriu o janelão do quarto e foi para a sacada olhar de frente o dia nascer fulgurante, com cheiro de pasto, de flores silvestres naquele seu recanto colonial, onde o galo véio já tinha dado o ar da graça e permitido que o sol nascesse uma vez mais.

Essa sensação de campanha, de vida rural; essa vontade de tomar leite quente saído dos úberes de sua Clarabela, paixão do Rocambole, seu touro premiado, tinha razão de ser: era dia de abertura de mais uma Expo-Feira no seu torrão natal.

Rocambole
Pronto, o Garanhão  vestira a carapuça. Sentia que estava despertando apenas porque era dia de feira. Sem mais delongas, cometeu o rito sagrado de seu quebra-jejum e foi ao banho de espuma... Lá pelas dez horas daquela manhã radiosa já ultrapassara a porteira do salão de exposições da Sociedade Agrícola, promotora do evento.

Sua cidade era mesmo uma gauchinha bem-querer, de nariz impinado e coluna vertebral inquebrantável. Mesmo com toda a crise, fingia anos dourados; mesmo com ameaças veladas de aftosa, mesmo com os bancos estrinicando juros e financiamentos, ainda assim ela insistia nas suas origens telúricas. Jamais deixava de realizar, religiosa e anualmente, a sua grande expo-feira. Não fazia mal nenhum que os compradores e vendedores fossem sempre os mesmos.

Clarabela
Pois, ali estava a Sociedade Agrícola a bancar, uma vez mais, o circuíto regional de bovinos, ovinos, equinos e hinos de tudo quanto era louvor. Negociar era preciso; sempre foi. A feira repercutia pelas campinas adentro e pelos anos afora. Virava assunto pro ano todo, todos os anos.

Eis que, de repente, o Garanhão  se encontra com um velho conhecido, grande ruralista regional e bom de negócios. Sem mais o que fazer, enquanto o primeiro leilão não começava, a bem de conversa os dois passaram a avaliar os resultados de alguns antigos negócios bem feitos. Note que o Garanhão  é tão compenetrado nesses momentos que muda até o sotaque:

- Tchê, tu te lembras daquele cavalo crioulo que eu rematei por R$ 50 mil, na feira do ano passado?
- Mas bah, claro que me lembro. Tô sabendo que tu o vendeste pelo dobro do preço.
- Pois é verdade, tchê. Eu comprei por 50 mil e vendi por 100.
- À las pombas, mas que negócio loco de bom...
- Quê nada, não ganhei nem perdi.
- Mas, como se deu isso, meu galo?...
- É que com o financiamento eu comprei o cavalo e não paguei. Aí, vendi e não me pagaram.

O Garanhão  nem se abalou. Sabia que era assim mesmo. Há muitos e muitos anos que a expo-feira era uma grande vitrine para grandes transações na base do faz-de-conta que se realizavam sempre entre os mesmos compradores e vendedores. Mantinha o status e a peladura.

Ele mesmo estava ali só pra isso. E já inscrevera a sua cabanha em mais aquela edição da tradicional grande feira. Ia dar negócio. A agricultura e a pecuária se prestam para essas coisas.

O Garanhão de Pelotas  abraçou o ruralista amigo e, juntos, foram para a praça central da feira, um local apropriado para garden parties negociais, onde havia um palanque montado à espera de um tal de Rossi que, se eles não estavam enganados, era até ministro da Agricultura. Pompa e circunstância é o que não falta nessas horas.

MORAL DA HISTÓRIA - Oh! Que formosa aparência tem a falsidade! (William Shakespeare - The Merchant of Venice)

20 de jul. de 2011

O Garanhão e o Peru

O Garanhão de Pelotas, todo mundo sabe, foi craque de bola. Meio de campo elegante, cabeça em pé, solidário, armador dadivoso na distribuição de passes e, além disso, um goleador implacável, um matador de primeira linha.

Até hoje é fanático por futebol. Como o Brasil de Mano foi pras cucuias, nem pegou pipoca ou guaraná para assistir os urugauios pegando o Peru. Foi lá, simplesmente, e viu. Feliz da vida, pois para sua alegria, Mano Menezes não estava na orla do gramado.

Sabe-se lá por quê, o Garanhão  fixou-se no Peru. E só vai falar nisso. Vai demonstrá-lo em frases curtas, quase desconexas. Sinta você agora o que é um Peru no dia seguinte:

Antes de mais nada é bom que se registre: ver Uruguai x Peru sem ter na arquibancada aquelas torcedoras paraguaias de seios legítimos, não tem a menor graça. O Garanhão  não sentiu a menor atração o tempo todo.

Deu para ver que os uruguaios gostaram de pegar o Peru.

A torcida feminina foi ao delírio quando o Peru entrou. Ao começar o aquecimento, então, nem se fala.

Os urugauios não esperavam que o Peru fosse endurecer daquela maneira.

A zaga uruguaia começou fechadinha, mas aos poucos foi cedendo e deixou o Peru entrar à vontade.

A torcedora para a amiga: - O que você achou do Peru?
A amiga para a torcedora: - Queria que ele fosse mais ousado.

A defesa uruguaia se abriu de tal maneira que o Peru entrou fácil pelo meio.

O Peru entrou com tudo e os ourugauios se acomodaram.

Já nos movimentos preliminares os urugauios perceberam: o Peru é mole.

O Peru era insistente queria, porque queria, jogar enfiado no meio.

A torcedora paraguaia de seios plásticos se desiludiu ao sentir que o Peru não jogava chongas. Viu que o Peru é só uma rima.

O técnico do Peru entrou na casamata só para dar peruada.
Aí, o árbitro endureceu com o técnico peruano: - O quê que há com o teu Peru?!?

Viu-se logo: o perigo do Peru está na ponta.

A bem da verdade, os uruguaios aguentaram com galhardia o Peru. Tanto é que quando cansaram do assédio do Peru... sentaram.

Durante o tempo todo o Peru só enfiou duas bolas no fundo.

Suárez furou o Peru aos 8 minutos do segundo ato; aos 13 minutos, gostou de judiar do Peru e meteu de novo: 2 x 0.

Só então o Peru começou a mostrar virilidade.

E, sem mais delongas, o Peru não conseguiu ficar e nem sair de cima. E acabou no encontro com os ururguaios. Foi bom para os dois... Os uruguaios, no entanto, gostaram mais; aproveitaram muito mais...

De qualquer forma, confirmou-se a tradição: o Peru morreu na véspera.

Da parte do Garanhão de Pelotas... Sabe-se lá por quê cargas d'água, ele saiu da sala e foi para a frente do computador com uma vontade esquisita... Hoje, ele resolveu meter o Peru de tudo que é jeito.

18 de jul. de 2011

AS SAÍDAS DO GARANHÃO

Há pequenas aventuras no cotidiano do Garanhão de Pelotas  que ele gosta de viver até um certo ponto. Pequenas coisas que significam muito. Por exemplo: gosta de escrever, mas... Ai de quem se meta a ficar do seu lado tamborilando com um lápis, ou uma canetinha Bic no tampo da mesa de reunião. Ele sobe nas tamancas. Tem vontade de deixar a vida de escritor.

Nada melhor para ele do que, no meio do dia, tomar um bom banho de ducha, mais para quente do que para morno. Adora el tintineo da água no seu corpo. Pero, no mucho! Detesta a lida da vida de ter que se enxugar. Pô que dose aquela esfregação onânica e felpuda em suas costas que, invariavelmente, ficam úmidas e mal enxutas.

Gosta de se sentir magrão e esbelto. Mas gosta mais dos prazeres da mesa, do aroma e do sabor dos vinhos espanhóis e chilenos. E de conversar com os rótulos que procedem das margens do Reno, ou dos vinhedos italianos. E fica gordo.

Outra mania do seu modus vivendi: não sabe ser feliz sozinho. Volta e meia casa. Casa despapelado, sem cartório; só para carimbar... E já sabe, tem que descasar. É que ele precisa encontrar a sua alma nem tão gêmea assim, mas uma alma que o contrarie só um pouquinho e de vez em quando; uma alma que seja o seu espírito de porco; o seu espírito e o seu corpo.

Para todas as a/venturas o Garanhão de Pelotas  tem suas próprias soluções. Às vezes dá com os burros n'água. Mas - você já sabe - água é um troço que lhe cai bem. Num banho a dois, numa banheira de espuma então... Nada melhor para rejuntar colunas, desdobrar pequenos prazeres, limpar as agruras do dia, limpar a barra.

Pois, olha o que ele inventa... Para o caso das canetinhas incomodativas, ele determinou que anotações nas reuniões de suas empresas, sejam feitas apenas a lápis. Por isso, já tratou de proibir apontadores manuais e mandou quebrar todas as pontas de grafite que surjam por acaso nesses encontros negociais.

No que tange às enxugações compulsórias pós-banho, ele resolveu a questão: faz do banheiro uma verdadeira peça de academia, mais que enxugar-se, ele se deixa massagear - no bom sentido - por uma de suas três secretárias executáveis, sempre disponíveis para serviços de qualquer natureza humana.

Já para o último casamento, tipo assim aberto, ele andou quebrando a cabeça. Queria sair daquilo em razão de ter sentido no latir de su corazón o aviso de que uma bruxa boa lhe trazia bons fados e lhe despertava, de repente, a quase esquecida alegria de viver.

Queria, mas tinha cutucões de dó e piedade que lhe provocavam lembrancinhas bobas. Recordou-se de quando, ao trocar de moradia - saía de uma mansão em Montevidéu para um confortável apartamento na Gorlero, rua que leva ao Conrad Resort, capital de Punta del Este que, por sua vez, é a única e verdadeira capital do Uruguai, teve que se desfazer de Gato, o seu cãozinho de estimação.

Deu uma dor do cão no Garanhão. Gato era só um bichinho, mas a separação foi doída. Como tudo na vida, deu, doeu e... passou.

E foi assim, pensando nessas dores de partidas para sempre, que o Garanhão  foi procurar a solução para desfazer aquela união já desgastada. Uma união aberta - como já se sabe.

Ela, Zuleide - seu nome era Zuleide, desde que que nascera até o primeiro encontro com o Garanhão  - tirava temporadas longe de casa. Passava um, dois mêses, ou mais, na sua própria casa, num desses interiores do mundo. E ele, feliz da vida, ficava na dele. Muito na dele.

Pois, foi nisso, exatamente nisso e nessas alturas que o Garanhão  encontrou o jeito nobre que lhe vai na alma de dar um fim ao que já estava terminado há muito tempo e, no entanto, ainda junto, teimosamente unido, apegado - quem sabe até - colado, demasiadamente colado.

Naquele dia mesmo, coisa de 45 ou 50 dias de separação consentida, o Garanhão de Pelotas  telefonou para Zuleide. Ela, de pronto, atendeu:

- Olá, tudo bem, meu anjo?
- Oi tudo bem, Zuleika.
- Como foi que você me chamou?...
- Zuleika, meu bem...
- Zuleika?!?
- Zulei... Zuleide, Zuleide!
- Zuleika é a mãe, seu cretino!!!

O Garanhão  nem chegou a completar a terceira cínica tentativa de chamá-la pelo nome de nascença. A batida do telefone ficou ressoando nos seus ouvidos moucos. Nunca mais o Garanhão  soube de Zuleide. Nem ela, jamais, quis saber do desalmado lorde infiel. Maldito traidor!

E dessa forma solteiro e desimpedido, o Garanhão de Pelotas  pôde enfim dedicar-se de alma, coração e vida à bruxa bonita, de lábios com gosto de café quentinho, de olhos curiosos que desvendavam seu mundo, de mãos macias que carregavam seu coração.

Desse jeito dedicado e entregue, o Garanhão e sua Bruxita viveram juntos por muitos e muitos anos e foram felizes para sempre.

MORAL DA HISTÓRIA - As mulheres perdoam as injúrias e as traições, mas não esquecem o desdém. E esta é uma saída para quem acha que sempre há uma forma de se resolver qualquer coisa na vida.

15 de jul. de 2011

IRONIA E POESIA - Versos & Reversos do Garanhão

Talvez você até já desconfie, mas o Garanhão de Pelotas  também tem lá suas recaídas. Por frenesi, desaba, desmonta-se, deixa-se nutrir pela latejante veia que irriga sua alma de poeta, seresteiro e namorado. E então verseja com ironia e delicado erotismo. Às vezes perde a métrica, mas não perde a rima, nem a vã filosofia perde a vida. Faz coisas assim:

Homenagem
Na mais terna relação de dois amantes
O homem, de joelhos, precisa fazer...
Homenagem à mulher, momentos antes,
De beijá-la à altura do seu prazer.

Manual
Ah, comer quando e a quem bem queria!
A todas, com charme e perdida paixão.
Na juventude, assim que acontecia:
Eu tinha o meu mundo na palma da mão.

Imaginação
Não existem mulheres feias na vida.
A todas nós devemos sempre fazer jus.
Pra que a feia nos pareça bonita,
Basta apenas que se apague a luz!

O primeiro
A maçaneta da porta: que percalço!
Ela, em camisola de seda chinesa;
Ele - descamisado e pé descalço.
Na sala, um cigarro sobre a mesa...

No flagrante delito daquela traição
Nada havia para fazer nem dizer.
Ao marido, o amante estende a mão:
- Sorria! Você é o primeiro a saber!..

Assédio Empresarial
Ela nem sabia que estava dando
Mas ele assediava, convencia.
Se não desse, saísse andando...
Adeus emprego!O chefe a demitiria.

Coisa de rico
Pobre e metida a besta / Não sabe que marido rico / de segunda-feira a sexta / mija fora do penico.

Ótica
Pense lá o que bem entender e quiser,
Mas acho agressivo e descarado
Esse tal de amor de mulher com mulher...
Ronronava o rapaz pro namorado.

Coragem
Machismo é mostrar sem medo a cara:
O Capenga desviado-se do ovário;
O belo mancebo diante da vara
Saindo lá de dentro... do armário.

Televeremos
Logo, logo veremos na televisão,
Em horário público e notório,
Colocarem Modess na menstruação
E uso explícito de supositório!

Relaxa!
Cuida-te bem, meu bom rapaz / não exagera em bondade / quem te abraça por trás / toma a tua virgindade.

Gol de placa
Comer a mulher do vizinho / e não contar pra mais de cem / é fazer um gol de placa sozinho / num estádio sem ninguém.

Fama
E a fama do vento fresco / da cidade dos janotas? / Os gaúchos não dão refresco: / É a delicada... Campinas, idiotas!

A pior
Levou sempre a pior em negócio / que fosse feito entre os dois / começou perdendo pro sócio / dando primeiro pra comer depois.

Pooker face
Cínica e descarada é a Clarabela:
Cara de pau, quando nos mente não cora.
E garante que o sexo para ela
É só uma coisa da boca pra fora.

Tá no sangue
No inverno: malha / no verão, saracoteia; / na praia, agasalha... / a antiga profissão corre na veia.

Sabor a mi
Foi assim que ele se deu por achado:
Ela com sabor de pizza portuguesa,
Insossa – sussurra: “meu velho safado”...
Bem no momento do beijo à francesa.

Lesbos, Gata 44
Ela, gostosa, bonita, uma gata;
Ele, só um delicado sapateiro,
Que o tempo todo, o dia inteiro,
Fazia com ela gato e sapato!

Futebol de Mulher
Mata a bola nos peitos / escorrega na coxa / passes de curva, sem defeitos / ela tem aquilo roxa. / Enfia no meio das pernas e mete na brecha / sua defesa abre e fecha... / embaixo dos paus, a goleira / encaixa as bolas, faceira. / Decididamente, esses lances nos consomem. / Futebol é coisa de homem!

Dose
Eu ontem bebi uma lágrima doce
Que, salgou de tristeza o meu uísque.
Por tudo quanto o nosso passado fosse,
Hoje, por mim, por você, por favor: risque!

Templo
Descrente, só é eterna minha vida,
Quando ponho os lábios sob os teus véus.
É assim que, ajoelhado, querida,
Rezo em teu templo, e dou graças aos céus.

Traição
Sexta-feira, fim de semana começa.
De frente, pelas costas, via oral, enfim...
Fantasie; faça tudo bem, sem pressa
E, no instante do gozo... pense em mim!

Vingança
Usando a mulher do seu desafeto
Vingou-se de vez, e com todo o prazer:
Ao despejar seu gozo naquele reto
Gemeu o nome do marido por querer.

Coisa do arco...
Flechei todas aquelas que desejava:
Loira, morena, mulata...Tudo igual.
Meu arco sempre retesava
O meu sexo... era manual

Ménage...
A idéia de dois por três
Na hora que o mundo acabou
Prova que o sonho dessa vez
De ménage à trois funcionou!

Enfim, ela atendeu ao pedido
De pensar em mais um, durante e depois...
Sem perigo, já dentro do marido
Fez seu ménage a três, só com eles dois.

E o terceiro ficou só... na mão
Solitário, apenas participou
Do ménage, na imaginação.
Mas foi bom. Pois, enfim, funcionou!

Para quem pensava em mim
Quando desligou a tevê...
Agora, vai ser assim:
Vou pensar sempre em você!

Para sempre
Lá onde a vista mal pode alcançar,
Juntando os seus imaginários lábios,
Se encontravam, silentes, o céu e o mar
Num largo beijo de silêncios sábios.

No meio daquela infinita distância
Solitária e triste, embarcada
Minha vida, em saudade e ânsia,
Daquele horizonte não ouvia nada.

E no meio daquela fria solidão
Eu vi o sol deitar-se nas ondas do mar
E a noite levantar a escuridão
Que para sempre não me deixou voltar.

Já é tarde
Quanto bem, sem medo e sem compromisso
Quanto tempo, quanta vida joguei fora
E, tonto, só fui me dar conta disso
Quando já é tarde e tenho que ir embora

14 de jul. de 2011

BRASIL 4 X 2 EQUADOR


Bem que o Garanhão de Pelotas  queria estar em outra companhia. Mas, por esses bloqueios da vida, estava chargeado e sem ânimo para qualquer outra coisa que não fosse sua solidão, munido de pipoca e guaraná diante da TV de sua sala, de frente para as luzes da noite de lua cheia.

Antes do início do jogo Brasil x Equador, contemplou a deusa astral da poesia que, estasiada, bailava nua, inteiramente nua ao som da flauta embriagadora de sua bruxa bonita e distante. E assim, ao luar das solidões, viu passar de carona na amplidão daquele esvoaçar de sua fada rumo à lua, a figura das suas melhores ilusões.

Pronto, sorveu um uísque solitário, deixou o Cousino Macoul para o balcão acolhedor de sua bruxita e pespegou-se à pipoca e ao guaraná de torcedor em franca solidão. Pronto, estava pronto para assistir ao jogo até à meia-noite e depois, deixar-se dormir ali no sofá, até o amanhecer desta quinta dos infernos para redigir e contar o que viu do futebol brasileiro.

FOME DE BOLA
Então, estádio cheio, na hora aprazada entra Mano Menezes de terno e gravata, vestido para um baile no Equador... Era Córdoba, na Argentina e a festa era de futebol. Talvez Mano não soubesse.

Os hinos nacionais com aquela falta de ritmo de sempre serviram de alerta para o treinador brasileiro que só então se deu conta de que o traje que usava era uma espécie de ultraje a rigor. Em todo caso, bola pra frente que aí vem gente!

Pela primeira vez nessa Copa América, Mano quase acertou a escalação inicial. Maicon no lugar do loiro Daniel Alves dava mais inteligência à lateral. Em compensação, Lucas Leivas e Ramires lá estavam para atrapalhar Paulo Henrique Ganso no meio-de-campo. Sorte que o time deles era todo equatoriano.

Achando que era pouco aquele brado retumbante que deu durante uma coletiva na véspera, Lúcio - o vetusto zagueiro brasiliense ainda resolveu bancar o xerife bafejando no cangote de Ganso segundos antes do início do jogo. Ganso bateu asas e voou deixando o capitão à deriva. Grosso, como é desde os tempos de Dunga, Lúcio certamente gostaria de ter Julio Batista no lugar de Ganso.

Um bom prenúncio: o Equador tinha um jogador chamado Caicedo que atua no Levante, time da Espanha. Caicedo corria um sério risco em Cordoba: joga ao lado do Arroyo.

Aos oito minutos, Maicon fez afinal a primeira jogada de linha de fundo pós-180 minutos de Daniel Alves na lateral da Seleção. Cá pra nós, sem preconceito, Daniel Alves depois que ficou loiro desoxigenou o cérebro e desaprendeu o que sabia naquela posição.

Aos 13 minutos, Ramires tocou pela primeira vez na bola. Fez tudo o que dele se esperava: estragou o ataque do Brasil. Enquanto isso, no Equador só o cabelo de Caicedo fazia frente ao penteado de Neymar.

Aos 22 minutos, mão de Lúcio, o xerife da melhoridade... na beira da área, de frente pro crime. Primeira ameaça equatoriana. Mas, para o bem de todos e felicidade geral da nação de Ricardo Teixeira, o futebol do Ecuador tem no próprio nome tudo o que ele joga.

Aos 28 minutos, alegria, alegria! Ainda desperta, a filha do Berlusconi não cabia em si de tanta brasilidade: gol de Pato! Dessa vez, para espanto geral, Ganso não participou do lance.

Pensando bem, para um time que tem Pato e Ganso, só falta um Richarlyson para ser um zoológico.

Aos 36 minutos, Robinho chuta na trave. Para Lúcio, ele chutou irresponsavelmente. Deveria ter batido com mais seriedade. Meio minuto depois, o xerife que só sabe jogar sério provocou frouxos de riso na platéia.

Foi assim, o idoso Lúcio caiu sentado e, desse jeito mal-acomodado nos altos e baixos de sua velhice, viu Caicedo chutar mal para o gol e Júlio Cesar sair-se pior. Assim é que os dois - Lúcio e Júlio Cesar - continuaram tão "afinados" em campo quanto nas entrevistas em que entregaram os companheiros. Dessa vez, os dois veteranos não reclamaram dos mais jovens. Os jovens, sorrisos contidos, não deram bola pra eles. Foi bem como dizia o mestre Didi, bicampeão do mundo: - Deus não joga, mas fiscaliza.

Nem o time todo do Peru - que joga na outra chave - tinha visto um galináceo tão grande como aquele do Júlio Cesar. Caicedo atirou e Júlio Cesar caiu tarde. E quanto ao xerifão, ficou evidente que o esquema de Mano começa falhando com Mano e fica pior ainda quando Lúcio fica mano a mano com qualquer atacantezinho adversário.

Pronto, acabou a primeira etapa. Um honroso 1 x 1 contra o Equador.

Eis que volta o Brasil para o segundo tempo com a mesma formação. Tudo igualzinho, nem sequer Mano Menezes foi substituído. O pior de tudo é que Lúcio continuou jogando sério. E com a solidariedade de Júlio Cesar. Coisas da terceira idade.

Aos quatro minutos Neymar recebe um merengue de Ganso e mete uma bucha no ângulo esquerdo. Para azar do torcedor brasileiro: 2 x 1 para o Brasil. Mano Menezes vai continuar no emprego.

Jogo que segue. E pelo andar da carruagem, quando Lúcio parar de jogar vai abrir uma rede de casas de bingo. Ele ficou "rifando" bolas o tempo todo.

Aos 13 minutos Ramires conseguiu desarmar Neymar e estragar mais um ataque do Brasil. Tinha acertado até então 15 passes errados para trás e não errara nenhuma passe à frente, já que nem sequer pensara em enfiar uma bola para alguém lá no ataque - aquela linha distante, pertinho do horizonte.

Um segundinho depois, Ramires conseguiu desarmar Neymar e frustrar o avanço do garoto bom de bola. Em seguidinha, Caicedo descobriu o mapa da mina, entrou pelo miolo da zaga, bateu forte e a bola passou lépida e faceira por baixo do corpo de Júlio Cesar que se refestelava num noite de grande inspiração.

Nuncanahistoriadessepaís um goleiro tinha atuado de maneira tão convincente e tão favorável à Seleção. Agora, todo mundo sabe que qualquer um pode ser goleiro titular do Brasil. Menos ele.

Aos 15 minutinhos, Neymar bochou de fora da área, o goleiro do Equador bancou Júlio César e bateu roupa. Pato chegou junto e foi às redes. Brasil 3 x 2. A filha de Berlusconi, já dormia a sono solto.

Aí, o jogo ficou sério. Todo time do Brasil resolveu brincar. E nesse renha-renha quer saber de uma coisa? Não se metam a trocar um Arouca sozinho por Ramires e Lucas Leivas juntos.

Aos 26 minutos e meio, Maicon ensinou a Daniel Alves como é que se faz e cruzou da linha de fundo... Neymar só não entrou com bola e tudo porque teve humildade: goooool!

Aos 31, Mano Menezes começa a se consagrar: deixa Ramires e tira Paulo Henrique Ganso. Para completar, escalou um ex-corintiano. Isso também não é pouco.

Aos 34 minutos, Mano não gostou que Neymar estava aparecendo mais que o Messi no último jogo da Argentina e o substitutiu. Lucas, menino são-paulino, não teve culpa nenhuma.

Aos 39 e um pouquinho, Mano mais uma vez demonstra toda a sua loirice. Tira Pato e bota Fred. Mano Menezes mostra claramente que precisa urgente de uma peruca loira como aquela do Daniel Alves. Depois dessa, a minha TV perdeu a cor.

Ah sim, o placar foi Brasil 4 x 2 Equador. Os jovens irreverentes, irrequietos, irresponsáveis tiveram que fazer quatro gols lá na frente, porque logo ali atrás os idosos Lúcio e Julio Cesar tomaram dois - sabe de quem?!? - dos equatorianos!

Fim de festa. Acabou o baile no Equador. Mano Menezes, enfim, pôde tirar o terno e a gravata, vestir bermuda e chinelo de dedo para ir ao restaurante. Futebol dá uma fome...

Dá mesmo, tanto é que acabou o estoque de pipoca e guaraná do Amazonas de Muricy, Luxemburgo e Felipão. Mas, suas assessorias já mandaram avisar que na tarde de domingo tem mais, no mata-mata com o Paraguai.

Quanto ao Garanhão de Pelotas, sobrou pipoca e guaraná. Olhou para o vinho e guardou-o carinhosa e ternamente para a próxima lua cheia. Afinal, a gente tem fome de quê?!?

13 de jul. de 2011

A PEÇA DO GARANHÃO DE PELOTAS

O AMANTE

Tudo parece só conversa jogada fora. Essa é uma característica dos textos do britânico Harold Pinter. O Amante transporta o espectador para uma situação enganadoramente prosaica. Em uma elegante casa do subúrbio, um casal se despede. Sorridente, a mulher deseja ao marido um bom dia de trabalho. Ali mesmo, no entanto, lhe conta que deve passar a tarde com seu amante. Ele sabe que é dele que ela está falando. O tom é cortês, amigável, coisa de sempre. Eles falam como se estivessem a falar do tempo. Tudo acontece como se o drama não fosse mais que uma comédia de costumes.

Eis que a vida imita a arte. A vida do Garanhão de Pelotas, por suposto.
Afinal, quem é Harold Pinter para pensar que seu enredo ficaria limitado às ribaltas quando a vida não é mais que um palco iluminado para o nosso intimorato lorde falido?!?

Peralá! Lorde falido, uma pinóia! Falido quando se trata de ir aos próprios fundos... Já em caso de heranças públicas e notórias é o Rei das Gastanças, o próprio soberano de todas as heranças. O mais conhecido e famoso mão aberta e pé ligeiro da nobreza desse mundo que ainda nos resta por viver.

Pois, além disso tudo e até por tudo isso mesmo é que o Garanhão  se surpreendeu sentindo na própria pele que a vida imita a arte.

Suddenly in the last summer - quando fala de si mesmo, o nosso herói fica meio adamado e se expressa em outras línguas - num fortuito churrasquito entre amigos e amigas, admira-se com um beijo roubado e uma breve confissão de uma paixão que guardava a sete chaves em seu coração desprevenido. 

Orra! E eu que não sabia!... - lamentou-se o nosso rei pelo tempo perdido. E quis logo voltar para mais um beijo de breve despedida daquela ação entre amigos. Quer dizer, entre amigo e amiga mais que do peito, agora também de coração.

Aquela descoberta despertou-lhe uma paixão instantânea, um amor tipo assim resumo da natureza feito pela imaginação. Daquela candura de um adeus tão lépido, foi cada um para seu canto e, em cada canto uma dor de amor. Dorzinha, só dorzinha que logo se fez encanto; encanto que se fez encontro. Encontro de beijos curiosos e carícias leves e ligeiras. E a coisa andou. Andou e foram se apaixonando...

O Garanhão de Pelotas descobriu que sua amada era mais que isso. Tinha ramos, ramificações... Era Maria Rita num dia; Fada Raínha no outro. Em certos momentos, Maria Fada; noutros, Rainha Rita. Ele próprio, Garanhão  quase sempre tinha horas de Sir  Harold, um nobre apaixonado por suas Marias, todas elas: a Rita, a Fada, a Rainha...

E alimentou-se de tal forma com esse amor desmesurado que hoje sua vida imita a arte. Eles dois, o Garanhão  e Sir  Harold, não passam mais um momento sequer de seu dia sem encontrar-se, mesmo quando estão longe um do outro - melhor, uns das outras - com suas múltiplas personalidades.

Agora mesmo, o Garanhão de Pelotas, Sir Harold, Maria Rita, Maria Fada e Raínha Rita, estão entregues, por inteiro, de corpo e alma, coluna com coluna, no maior sonho horizontal, um interminável e apaixonadíssimo ménage à trois ou à cinc. Mas só entre eles. Sem qualquer ciúme nem pressa desmedida, a vida imita a arte.

MORAL DA HISTÓRIA - A arte está consumada quando se parece com a natureza. E/ou o Garanhão de Pelotas  é, antes de tudo, um forte. Não desiste nunca.

12 de jul. de 2011

NIHIL
O Garanhão de Pelotas  tem seus dias de desencanto e de abandono. No entanto, filósofo contemporâneo por vocação, seu temperamento latino não lhe permite ser niilista. Para ele nada pode nascer do nada, nem nada pode converter-se em nada.

10 de jul. de 2011

O GARANHÃO NUM DOMINGO DISTANTE

Eis que o Garanhão de Pelotas  se aproveitava de mais uma tarde de domingo no aconchego das chamas altas da lareira viva de sua sala tipo loft daquela cabana suiça, no meio do Pampa gaúcho, onde tentava esquecer a saudade do último bando de andorinhas fugitivas do inverno que corria lá fora.

Estava só, distante de sua bruxa bonita, cara de índia espanhola de pele germânica, mistura mágica de fada e mulher que, pelas cruzadas do destino, ficara noutras paragens por forças que só os dois ainda ocultavam, posto que os tempos eram de espera por mais um setembro na vida.

O Garanhão, às lonjuras de sua amada, curtia a dor da distância que a vida reserva aos mortais, sem escolher hora e sem marcar lugar. Para não dar o braço a torcer, enganava o destino queixando-se de si para si mesmo que os gemidos que se perdiam no ar eram, muito menos do coração do que da sua coluna vertebral que, teimosa como o próprio dono, não se deixava dobrar.

O Garanhão, aliviava-se - mais, consolava-se - com a perspectiva de que um pouco mais além daquela tarde fria e solitária de domingo, suas dores se juntariam com as dores e os gemidos de sua gaúcha bem-querer, de coluna tão grega, tão gótica, tão sacra, tão parecida com a dele.

E nesse consolo, tipo sonho de coração aberto e olhos semicerrados, o Garanhão de Pelotas sentiu na pele a a suavidade da pele de sua querida distante, descendo pela coluna cervical, como se lábios fossem no seu pescoço; pela coluna toráxica, como se pelo peito se derramasse; pela coluna lombar, assim de bruços, entregue, vencido; pelo sacro, santo jeito de se consagrar amado e amante.

E assim venceu o domingo, aquecido pelo calor das duas colunas que se escoravam uma na outra, mais quentes e mais gostosas do que as chamas da lareira que, aos poucos, ia adormecendo também. Mas, o Garanhão e sua bruxa bonita sabem que lareiras apenas se apagam; apenas fenecem; não sonham.

9 de jul. de 2011

O GARANHÃO NO COIFFEUR

Porque, dentre tantos atributos, é um tremendo mão de vaca; porque é calvo, desde que também é de carne e osso, o Garanhão de Pelotas  tirou a manhã de sábado para ir à barbearia.

Reprodução
Uma vez consumada com êxito a tarefa do coiffeur, o nosso lorde dono de múltiplas personalidades, encarnou o sovina que dele se apossa em weekends sem diárias culturais, tirando do fundo do baú uma velha piada de cadeiras de barbeiro:

- Quanto é?
- R$ 60 - ripostou-lhe o profissional.
- O corte para carecas não tem desconto?...
- Pelo contrário, meu senhor, tem um acréscimo porque exige trabalho de "busca"...
- E quanto é a "busca"?
- Só a busca, R$ 10.
- Então tome R$ 10 e não precisa procurar mais nada. Passe bem.

MORAL DA HISTÓRIA - Brincando, brincando, é assim que o Garanhão de Pelotas consegue manter o status de herdeiro de lordes falidos.

8 de jul. de 2011

O GARANHÃO E SUAS TRÊS COMPANHEIRAS

Hoje, o Garanhão de Pelotas, último espadachim da nobreza que se espraiou pela orla da Lagoa dos Patos - maior mancha lacustre do mundo, despertou como se estivesse naqueles dias. Frágil como uma avenca. Meio descaderado - como se um lorde pudesse padecer de uma reles dor na coluna vertebral.

Sim, mais importante que as sensações que lhe corriam a espinha, era o fato de ter coluna, de ser um zoón politikon, um animal social vertebrado - espécie em extinção no país que resta além fronteiras dos Pampas, um pouco pra lá do zunir do Minuano.

Pois, o Garanhão de Pelotas  acordou assim. Como se tivesse tomado um porre; como se tivesse sorvido, dose a dose, uma garrafa inteira de um luxuoso Dimple de 15 anos de convivência com o maltês Glenckinchie de 40 graus etílicos, antes de sentar-se à mesa de bacalhoada, na companhia de um branco incorpado de Rioja, Conde de Valdemar, fermentado em barricas.

E foi por isso mesmo, pelo Dimple, pelo bacalhau, pela parceria de um branco incorpado e não com a companhia de sua musa inspiradora, de sua bruxa bonita de olhos infinitos e de sorriso condescendente que o Garanhão de Pelotas começou o dia frágil como uma avenca, como se estivesse naqueles dias.

Como não é dado a deixar-se vencer, o Garanhão  ergueu-se impávido escorado em sua inquebrantável coluna vertebral e venceu a solidão imposta pelo novo dia longe de quem queria estar perto, dialogando com o seu trio de velhas e dóceis parceiras de momentos assim, as suas queridas e bem-amadas árvores da felicidade. Pronto, o Garanhão de Pelotas logo se sentiu um outro homem.

MORAL DA HISTÓRIA - Sem o amor que encanta, a solidão de um homem espanta.

6 de jul. de 2011

NADA FICOU PARA DEPOIS

E então, depois de comer mosca assim como se fosse um reles plebeu, o Garanhão de Pelotas  deixou-se incorporar pelo nobre falido que há dentro dele e, de repente, não mais que de repente, percebeu-se apaixonado. Amadurecida e quase que tardiamente apaixonado.

Soube, o imbecil, que estava caído de amores - daqueles amores de fazer estrogonofes para a bem-amada e bebericar vinhos mais merlôs que cabernês - por alguém que já o espreitava e queria, de tudo desse mundo, trocar pequenas emoções por um grande e interminável sonho possível de ser sonhado; mais que isso, de ser vivido.

Soube, o basbaque de tantas e tantas aventuras nessa vida, que uma doce e grande ventura saía da moita para trilhar caminhos por dias de vinhos e rosas, dias e momentos de coisinhas bobas que significam tudo. E deu-se conta de que a vida só é grande quando a felicidade é imensa por que cabe dentro de pequenos instantes, momento a momento.

Era quase muito pra lá de depois. Mas - sujeito de potra nessa vida - salvou-se pelo gongo, pois nunca é tarde demais para amar. O ecoar do gongo, o tilintar dos sinos, vinha em ondas pela vida redescoberta, sem cobertores curtos, em pequenas dose de risos, pensamentos, afinidades, receios do que desconheciam um do outro... Melhor seria se desconhecessem tudo, um sobre o outro.

O clima tinha um certo ar de temores tolos; o frio que corria descia gostoso pela espinha. Encontros quase furtivos foram juntando os desencontros. E depois, de cafezinhos culturais, comidinhas alhures em esquinas mal-escolhidas e restaurantes sem burburinho, saíram de um risoto a dois, muito às claras e regados a goles de ternura dietética e foram para o aconchego de suas ilusões.

Saídos de dentro de si mesmos, o Garanhão de Pelotas  e sua musa de olhos distantes e lábios deliciosos, se encaminharam, cúmplices, para o refúgio da dona dos anéis que enfeitam a felicidade. Provaram, então, o mel do grande encontro que se esparramou pelo tapete e escorreu para o recôndito de um quarto de cama sem virgindade e enlouquecidamente convidativa.

E assim, tudo à meia luz, crepúsculo interior, eles se desnudaram de seus receios e, com muita doçura, muito carinho antigo devassado... brocharam os dois. E de tal forma ambos se identificaram tão felizes nesse orgasmo de razão e coração que nada, nunca mais, ficou para depois.

MORAL DA HISTÓRIA - Para o coração é uma doce loucura ser o dono da razão.