Depois de uma ducha às pressas, pois precisa se aprontar para o jantar com John Travolta, o Garanhão de Pelotas foi informado que neste domingão, em mais um palanque da candidata do governo Lula, o presideus foi novamente acometido de azia. Fez do encontro uma espécie de reunião de pauta. E como grande chefe de redação, teria rouquejado com ares sóbrios:
“É importante a gente começar a ficar esperto e começar a ver o tratamento que vai ser dado na imprensa. Ontem, a Dilma apareceu uns 30 segundos e o adversário uma seis vezes na televisão".
O Garanhão viu logo que o recado foi dado para a rede Globo. Mas reparou que Lula espalhou o seu refluxo por tudo que foi canto. O Garanhão fixou-se na mais nova pérola presidencial: "Somos defensores da imprensa livre. Mas quando se trata de campanha, a imprensa tem que ser neutra ou, no mínimo diga que tenha candidato, porque aí a gente troca de canal para ver o canal da nossa candidata”.
Aí, conluiu: - Isso é uma tragicomédia. Tem seu lado cômico: a candidata dele tem canal.
E seguiu em suas conjeturas, enquanto escolhia uma camisa politicamente correta para uma ceia afro-descendente: - Pelo que me é dado reparar e pelo que Lula mesmo diz, basta a gente querer para ver o canal da candidata.
E, já calçando os sapatos, foi desfiando o rolo de seus pensamentos a respeito do assunto - Bolas, tá todo mundo farto de saber disso, mas só tem um detalhe: esta foi a primeira confissão explícita das facilidades de comunicação que iluminam o poste predileto de Lula.
Achou tudo muito sério e, já passando o cartão magnético na porta de sua suíte, encaminhou-se para o restaurante do hotel. Foi nesse trajeto que desenhou no cérebro o lado trágico da historieta: - Ninguém se interessa em ver o canal da candidata. Dá azia e dá traço.
O Garanhão deu de ombros, sorriu para o espelho bisotê do requintadíssimo corredor e entrou no elevador.