30 de jan. de 2011

Olho por Olho

O que não falta nesse paraíso de bananas e bananões é balaqueiro. Brasileiro é gabola por natureza. De jogador de futebol a presidente da República, todo mundo é fanfarrão. O próprio Garanhão de Pelotas   é um farofeiro vocacionado, um parlapatão de alta linhagem.

Nesse Brasil que vai se criando, mentir é sempre um prazer. O Garanhão  sabe, talvez melhor do que ninguém, que a fanfarronice está intimamente ligada à punição de ter que aturar mentiras e seus mentirosos. Faz parte.

Pois, numa dessas tardes jogadas fora numa quadra de tênis com amigos, entre um set e outro, o Garanhão  parou para uma boa dose de água tônica com gelo e limão enquanto se queixava de um pequeno assédio de hipoglicemia. Havia dezenas de bolinhas escuras pululando ao redor de seus olhos. A visão estava turva. Mas, com o quinino refrescante, tudo já voltaria ao normal em seguidinha.

Seu parceiro, Paolino Micheletto - filho de pais italianos - não perdia oportunidade para empurrar em qualquer conversa um toque de fanfarronice. Aquela coisa de olhos o transportou logo para o mundo da imaginação e cutucou o Garanhão, ao enxugar o suor do rosto com uma toalha felpuda:

- Lá em Gênova, onde meus pais nasceram, você não teria esse problema...
- Perturbação nos olhos?
- É. Lá a oftalmologia está muito avançada. Imagine que minha avó ficou cega e os médicos fizeram dois olhos com bolas de gude e ela agora enxerga que é uma beleza!...

O Garanhão  bebericou o refrigerante reparador, mas não engoliu a lorota de Paulino. Não perdeu tempo:

- Pois, aqui mesmo em Brasília, no Setor Industrial, meu irmão perdeu a mão esquerda numa prensa hidráulica e hoje não tem problema nenhum;
- Não tem?
- Nenhum. Os médicos do Hospital de Base botaram uma teta de vaca no lugar da mão dele. Agora, quando ele quer tomar leite, só espreme um dedo e pronto...
- Mas úberes só tem quatro tetas... Falta um dedo.
- Pois ele está até pensando em ser candidato a presidente da República nas próximas eleições...

Paolino Michelleto quase caiu para trás. Manteve-se em pé apenas porque sabia que mentira é assim mesmo, uma puxa a outra. Mas reclamou:

- Essa, não. Essa é demais. Eu quero ver para crer. Traga ele aqui que eu quero ver...
- Ele até pode vir, mas antes, você vai ter que trazer a sua avó com os olhos de bola de gude que aí eu mostro pra ela o meu irmão tomando leite.

Antes que a coisa fosse mais longe, a hipoglicemia tinha passado e o Garanhão  já foi logo se dirigindo para a quadra. Precisava meter um 6 a 0 naquele balaqueiro, só pra ele ver o que é bom pra tosse.

MORAL DA HISTÓRIA - Tanto a mentira é melhor quanto mais parece verdadeira; tanto ela agrada mais quanto mais tenha de duvidosa.