24 de jan. de 2011

Negócios de Feira

Apesar da crise que os mais espertos que os outros chamavam de "marolinha", a Sociedade Agrícola bancava mais um grande feira internacional de bovinos, ovinos, equinos e hinos de tudo quanto era louvor. Inter assim, meio que pelas rebarbas, já que de fora vinha só urugauios e alguns argetinos. Mas negociar era preciso.

Mesmo com uma mão na frente e outra atrás, os balaqueiros de sempre não se deixavam intimidar pelos juros escorchantes e os financiamentos impagáveis. Quê aftosa quê nada; quê vaca louca o quê?!?... Remate na comunidade ruralista é isso mesmo, uma espécie de religião. Só que ninguém é santo.

O Garanhão de Pelotas  foi lá, de bota e espora; de mala e cuia. Leilão daqui, leilão dali, o fim de semana até que foi bom. Até porque, depois das rodadas de compra e venda, de oferta e procura, sempre tinha um uísquinho amigo e uns salgadinhos que preparava as gandaias com, as gurias mais doces que vinham pra assistir os shows de canto e dança. Naquela feira até a Elba Ramalho veio pro aconchego musical, trazendo na mala bastante saudade... Claro, teve o Gaúcho da Fronteira também. Era só o que faltava, ele faltar. E teve chula e sapateado, até malambo pintou no rodeio.

O bom de tudo é que saiu negócio. Quando a exposição terminou, todo mundo voltou pras estâncias a fim de tratar da vida que a lida do campo não pode esperar.

Tres ou quatro meses depois, o Garanhão  se pechou no centro da cidade com um ruralista daqueles criadores que sempre encontrava pelas exposições-feira. Foram tomar um café na esquina. No balcão, recordaram alguns lances do último remate:

- Tu te lembras daquele cavalo crioulo que eu rematei?
- Lembro, foi por R$ 50 mil, não foi?...
- Pois foi. Comprei por 50 mil e vendi por 100.
- A las pucha...
- Las pucha mesmo, não ganhei nem perdi.
- Capaz! Tu tens um parafuso frouxo, tchê? Compraste por 50 contos e vendeste pelo dobro...
- É que eu comprei e não paguei. Vendi e não me pagaram.
- Mas, então te sobra 50 de crédito.
- Tô contando com isso. Fim de agosto tem remate lá em Bagé...

A conversa se perdeu pela invernada. Como o basofeiro não se coçava, o Garanhão  pagou o cafezinho. Em setembro, os dois inscreveram suas cabanhas na tradicional grande feira da Rainha da Fronteira. Mas lá se aprecataram, pois cavalo se compra fiado, mas as gurias de vida fácil, cobram tudo na bucha, na boca da guaiaca.

MORAL DA HISTÓRIA - Aquele que perde a honra por um negócio, perde o negócio e a honra.