21 de jan. de 2011

Um despertar do Garanhão

O propagandista Garanhão de Pelotas acordou com os bofes virados. Foi ao banheiro, olhou-se no espelho, não gostou do que viu e resmungou para o lorde amarrotado que o encarava lá de dentro: - Vê se te enxerga... vai te lixar!

Não foi por nada, nem mesmo por conta da ressaca da gandaia de ontem, mas ele teve a nítida impressão de que ouviu o almofadinha do lado de lá responder na mesma moeda: -Vai te deitar, vinagre!

Só pra não deixar barato, passou um pito no reflexo:
- Pra mim tu acóca na boneca! Tu descabela a bruxa.

Antes de pegar a escova de dentes, o sabonete Lifebuoy e o pente Flamengo, tem certeza que ainda escutou a teimosa figura lhe dar o troco: - E tu, seu bocó duma figa, senta no pepino e diz que é verdureiro...

O Garanhão dessa vez arrolhou,  acabou de arear os dentes, desistiu de brigar consigo mesmo, entregou os pontos e zuniu dali. Já na cozinha, deu bomba no fogareiro primus, fez uma torrada de presunto e queijo e foi tratar de ganhar a vida.

Quando saiu para a rua, vestia-se como um dandy: calça preta de nylon, paletó cinza-xadrezinho Príncipe de Gales, camisa volta-ao-mundo, gravata italiana e sapatos tanque das Lojas Clark. Claro, Gumex no cabelo abotoado - que o topete não podia desandar.

Chaveou a porta do bangalô de cimento penteado, entrou no seu flamante Austin A-40 e saiu cantando pneu, fazendo murisqueta pela alameda que levava até sua agência de propaganda. Tinha que gravar, ainda naquele pedaço de manhã que lhe sobrava, um acetato com dois reclames - um, do Galenogal; o outro, do Pó Pelotense.

MORAL DA HISTÓRIA - Toda consciência digna e pura padece de um amargo remorso quando não resiste a uma recaída.