O Garanhão de Pelotas andava aos trancos e boleros lá por Havana, tierra soñada por Lula, Franklin Martins, Zé Dirceu e até por Raúl e Fidel Castro. Bolas, o Garanhão também não é de ferro; tem lá suas descaídas. Era uma volta sentimental. Levou com ele as três inseparáveis gurias medonhas de cama, mesa e banho. Não dizia nada pra ninguém - que pra trouxa ele não serve - mas, queria comparar la Cocodrillo Verde, de el huidizo Fulgêncio Batista con la Cuba de hoy, de los depreciables hermanos Castro.
Forçoso confessar, mas só para ele mesmo: pouca coisa tinha mudado. Os boleros eram os mesmos, as morenas dadivosas eram as mesmas, a salsa era a mesma, tudo era o mesmo que os turistas sempre viram e viveram em Havana. Tudo igual, só que bem mais velho. Com menos charme, menos glamour, menos grana, menos gordurama... Ah sim, as doses de Cuba-libre eram bem menores e muito mais caras.
Naquele meio de noite, com o fim pra lá de previsível de um show dito afro-cuban latin jazz, resolveu voltar a pé para o hotel, bem ali pertinho. Elegante, sempre no it da moda, trajando uma camisa volta-ao-mundo e uma blusa de banlon, o Garanhão matutava em dialeto pelotense sobre aquela velha mania dos cubanos usarem o título de seus espetáculos sempre em inglês.
Assim, até parece que eles não falam espanhol, pô. Atravessou a rua escura e mortiça e, já na primeira quebrada de esquina, seus pensamentos se perderam quando ele se deparou com um trôpego notívago que bramia em desencanto:
- Gobierno de mierda... Gobierno de mierda!
Seus queixumes foram interrompidos pelo tonitruante vozeirão de um enorme policial, desses que a gente encontra em qualquer parte do mundo, que logo lhe deu um encontrão:
- Hablando mal de gobierno, hahân?!?
- Pero, señor policía, yo estoy hablando de el gobierno de Brasil.
- No me vengas con escusas. El unico gobierno de mierda que yo conozco es el gobierno de Cuba!
E mais não disse. O pinguço ia sendo preso, quando o Garanhão de Pelotas interferiu. Com uma ficha de jogo equivalente a cem dólares na mão, convenceu o guarda a libertar o cambaleante dissidente:
- Ei, hombre... Você sabe que esta é só uma velha piada. Solte o cara, ou você não vai sair na matéria que eu vou mandar amanhã pros meus editores e nem na história que vou jogar na internet.
MORAL DA HISTÓRIA - A surrada anedota serve para mostrar que para um dissidente cubano escapar do regime castrista, basta meter o Brasil no meio. Desde que não seja pugilista e Tarso Genro não esteja por perto. E mais até: propina é propina e toda esquina tem seu preço.