12 de jan. de 2011

O Garanhão de maus bofes

Você está pensando o quê?!? O Garanhão de Pelotas é muito bom e coisa e tal, mas quando joga fora as Havaianas da humildade e sobe nas tamancas, tem um genio do cão. Solteiro de vez em quando, latin lover quase sempre, casou mais que a Gretchen - Hiii pegou mal!.. Casou mais que a Elizabeth Taylor! No grande palco da ilusão, o casamento sempre foi para ele aquilo que alguém já classificou como uma tragédia em dois atos: o civil e o religioso.

Vem daí a sua vocação de malandro, rufião de butique, de gênio irritadiço quando joga fora as alianças - não as de ouro, as alianças sociais. Nessas horas fica sarcástico, de temperamento indomável, sem papas na língua até à última gota.

Pois, casualmente, o Garanhão estava num daqueles dias. À beira da bipolaridade. Passava um tempinho em Pelotas e, como sempre, nas cercanias do Café Aquário - point citadino onde todo mundo resolve os problemas do mundo e pensa que sabe quem come a mulher de quem.

Estava com o pé que era um leque para passar mais um dezembro em Mar del Plata - a melhor cidade-balenário argentina, berço de Ástor Piazzola, inventor do libertango, que Carlos Gardel não saberia cantar.

Mas, com toda a crise de mau-humor, o Garanhão curtia - entre um autógrafo e outro - a roda de amigos ali na esquina do Aquário quando, de repente e não mais que de repente, aprochega-se um daqueles chatos de galocha que se consagram como os maiores fura-bolos e mata-piolhos das conversas dos outros.

O xaropão, assim que viu o Garanhão, tomou confianças, deu-lhe um abraço, interrompeu o papo da turma e cravejou os olhos brilhantes num dos muitos detalhes fashions do cavaleiro de fina estampa:

- Linda esta sua gravata, Garanhão...
- Obrigado, eu também acho.
- Onde você a comprou?
- É fácil - respondeu-lhe o Garanhão, já com o pavio aceso.
- Fácil?
- É, você tem carro?
- Tinha sim, um Citröen... Já não tenho mais...
- Faz mal, não. Seguinte: pega um ônibus Golden Class do Expresso Embaixador e vai até Porto Alegre.
- Cê comprou essa gravata em Portinho?
- Não. Da Rodoviária em  Porto Alegre, você vai de táxi até o aeroporto...
- E compra a gravata lá?
- Nada disso. Aí você pega um vôo para São Paulo.
- E compro lá, na Zé Paulino? - provocou o enjoado.
- Nada disso, cara. Vai até Guarulhos, pega um avião para a Itália. Quando chegar em Roma, na Via Veneto você compra uma dessas e faz como eu... vem pra esquina do café jogar conversa fora e perder tempo com os babacas que sempre aparecem por aqui.

Esperou um breve instante e como o incomodativo sujeito não deu mostras de ter acusado o golpe, o Garanhão puxou assunto com ele:

- Escute aqui, você vai para os lados da Avenida Bento Gonçalves?
- Não tinha essa intenção. Mas posso ir... - ripostou o mazanzão, querendo agradar.
- Então, vai. Vai pra lá que nós vamos ficar aqui. Tchau!