21 de jan. de 2011

Excelências identificadas

O Garanhão de Pelotas - então douto magistrado, presidia uma concorrida seção do Tribunal do Júri.

O embate entre o promotor de justiça - famoso defensor do Estado e o advogado de defesa - um temido criminalista, era o grande campeão da audiência popular.

Os dois eram tidos e havidos como brilhantes oradores, ainda que sem papas na língua. Duas grandes raposas das lides forenses.

O confronto, mais do que o caso em julgamento, era a grande atração do júri. E não deu outra: nem bem os trabalhos começaram e, diante da primeira discordância, foram ganhando foros de acalorado bate-boca:

- Meu caro e ilustre promotor, o senhor é um biltre!
- E vossa excelência, um reles calhorda!

O Garanhão de Pelotas, ajeitou a toga, bateu o martelo, tilintou a campaínha de alerta às partes e ponderou com firme ironia:

- Já que ambos acabam de se identificar e todos aqui já sabem quem são os senhores podemos começar agora a tratar do processo... excelências.

Ao fim de oito horas de trabalho, o julgamento chegou ao final sem que os dois precisassem usar de sua verborragia escancarada para convencer o corpo de jurados. O calhorda conseguiu que o réu fosse condenado. Mas o biltre vai recorrer.

MORAL DA HISTÓRIA - Na justiça sempre há perigo: ou por parte da lei, ou por parte dos juizes. No fundo, no fundo, a justiça é a verdade em ação.