Tinha sempre uma boa história pra contar. Cada caso era um causo. Sempre alguém, ou alguma empresa lhe devia dinheiro de comissões e vendas realizadas em lugares e datas sempre incertos e não sabidos.
Decidido, foi entrando, arrancou o cartazete e se dirigiu ao primeiro vivente por ali que tinha cara de gerente.
Entregou-lhe o anúncio impresso e, transbordando auto-suficiência já foi logo dizendo:
- Pronto, tá aqui o melhor vendedor do mundo. Eu sou o N° 1.
- Número 1 do mundo?
- É, o N° 1... O quié que vocês querem que eu venda?
- Olha, temos estas telas coloridas de galalite para usar na TV...
- Deixa comigo. Quanto tempo eu tenho pra vender essa meia dúzia aqui?
- Uma semana, tá bom?
- Deixa comigo.
O Garanhão pegou a embalagem com umas vinte telas de superposição a visores de tevê em preto e branco e, cheio de confiança, foi à luta. Dez dias depois, apareceu na loja, com a mesma empáfia. O gerente festejou:
- Salve o N° 1. Salve o maior vendedor do mundo! Salve o N° 1...
- Número 2! Número 2, por favor... O N° 1 é o cara que vendeu essa telas pra vocês!
Entregou a mercadoria e foi para os bares da vida vender alhos por bugalhos. Cheio ainda de comissões por receber, o Garanhão de Pelotas acabou voltando para o colégio. Formou-se no fim do ano, com louvor. Pra burro ele não servia. Mas deve as mensalidades daquele ano letivo até hoje.
MORAL DA HISTÓRIA - A inclinação de confiar naqueles a quem não conhecemos tem razão de ser: é que até então não tinham nos enganado.