13 de jan. de 2011

Tragédia em Dois Atos

1° ATO

O Garanhão de Pelotas, sempre teve um incontrolável fascínio pelo Caribe. Ano passado, estava o galante persecutor das mais sensuais espécies aracnídeas emaranhado numa teia de renda negra, quando sentiu o frêmito brutal nascido do mais íntimo recôndito da paixão de sua ruiva secretária-executora.

Nem ele mesmo se julgava tão apto assim a provocar vulcões de sensações inconfessáveis; nem ele, Garanhão velho de guerra, se considerava capaz de fazer a terra tremer com uma simples estocada final.

A verdade, no entanto, é que ao jorro do seu nectar erótico sua parceira desandou-se num frenesi tal que, além de suas maviosas formas caírem num requebro interminável, a cama espatifou-se, o chão do quarto cedeu, o teto desabou...

- Que final, fantástico! Que gozo. Hmmm que gozo. Vou relaxar...
- Quê relaxar o quê! Deixa de ser presunçoso, amoreco! O mundo está acabando!
- Quê, mundo o quê... Quem acabou de acabar fui eu!
- Olhali, cara. Te toca, te antena: É um terremoto! A cidade desabou. Port au Prince acabou!

O Garanhão de Pelotas, levantou-se do pedaço de assoalho que ainda restava da suíte presidencial do imponente Holiday Inn, chegou à varanda e só então se deu conta de que o Haiti já não era mais bonito por natureza. Era uma tragédia. Um desmoronamento só; homens, mulheres, meros mortais e "pessoas não comuns" morrendo soterradas; pedra, cascalho, cimento, ferros retorcidos, crianças soterradas, um caos. Forçoso é reconhecer: Port au Prince acabara.

Antes que os políticos de todas as classes e partes do mundo chegassem com as mãos vazias e as gargantas atulhadas de promessas; antes que os safardanas aportassem em Port au Prince com suas ajuidas humanimonetárias, o Garanhão e sua secretária ruiva se mandaram.

Fugiram daquele pavor. O check-in numa esteira que servia de aeroporto revelava o novo destino do Garanhão de Pelotas: tinha encontro marcado com as outras duas secretárias-executoras - a loira e a morena - num outro paraíso terrestre.

Esse sim, paraíso inatingível pelos males da uma natureza revoltada e cruel. E, com a ruiva à tiracolo, se mandou rumo ao País de Alice - que o Garanhão não pode ver desastre, destruição, nenhuma dessas maldades saídas dos quintos do inferno...

Deixou a tarefa de reconstrução do pobre país para os senhores do mundo, para os governantes que sempre aparecem quando a crônica das mortes anunciadas já foi lida, relida e só deixou desencanto, tristeza e destruição. O Garanhão se mandou. Sem olhar pra trás, já que não tem a menor vocação para virar estátua.

2° ATO

Nosso herói estava na maior. Dê-lhe que te dê-lhe. E ia fundo e voltava fácil. - Ai, como é bom viver no País das Maravilhas - dizia de si para si mesmo. As gurias se refestelavam. Umas trocando de lugar e de preferências com as outras. Pela progressão aritmética, as três imaginaram pelo menos 18 composições da trinca, todas aglutinadas numa gandaia daquelas com o garboso e, pra essas coisas de alcova, solidário e prestimoso Garanhão...

Eis que, na hora do pega que vai escapar, o experiente mancebo torna-se afoito e... pronto! A Terra toda tremeu. Aquilo sim é que era gozo; aquilo sim é que era orgasmo múltiplo! Parecia até que o Rio de Janeiro, capital maravilhosa do Brasil de Alice, um ano depois, estava clonando o Haiti...

A verdade é que, ao jorro do seu nectar erótico suas parceiras desandaram-se num frenesi tal que, além de suas maviosas formas caírem num requebro interminável, a cama espatifou-se, o chão do quarto cedeu, o teto desabou...

Estranho, mas o Garanhão teve a nítida impressão de que já vira aquele filme. Deu um chega pra lá na última das secretárias que estava a seu lado - as outras duas jaziam esparramadas embaixo dos móveis da suíte.

Foi até a varanda. Arrependeu-se de não ter se hospedado no Quitandinha... Petrópolis estava arrasada. Deslizava dos morros. Desandava pelas encostas. A região Serrana inteirinha era a imagem encharcada de todos os fogos do inferno. O Rio era um pedaço do país se desmanchando que deixaram de "herança bendita" para Dilma.

Então, lá de cima de sua sacada, se deu conta de que o Brasil Maravilha já não era mais bonito pela natureza. Pela natureza dos seus políticos, dos seus governantes.

Era uma tragédia anunciada; consequencia inevitável da insensibilidade dos governos de todos os naipes - federal, estaduais e municipais - que não aplicaram na defesa civil nem sequer 15% da verba que tinham para prevenir hecatombes como essas que já tinham dado o ar da desgraça em Angra dos Reis - o Jardim do Éden brasileiro para quem o governo federal deve, há mais de um ano, R$ 30 milhões que prometeu e, comme d'habitude, não cumpriu

O Garanhão viu com os seus olhos que a terra há de comer o que é mesmo uma "herança bendita", deixada assim de mão beijada, para quem quer e gosta.

O Brasil Maravilha é um desmoronamento só; homens, mulheres, meros mortais, "pessoas não comuns" morrendo soterradas; pedra, cascalho, cimento, ferro retorcido, crianças soterradas, um caos. As esperanças e as crenças deslizando, desabando, desmoronando pela vida abaixo. 

O Garanhão de Pelotas já está de malas prontas outra vez. Vai embora para a pousada "Manoel Bandeira", em Passárgada, lá ele é amigo do rei. Forçoso é reconhecer: o Brasil Maravilha acabou.