22 de jan. de 2011

O Antiquário e o colecionador

Naquele tempo, o Garanhão de Pelotas  era um antiquário. Estava a ver navios em meio a um dia de pouco movimento. Nada demais, dia de negócios com coisas antigas é assim mesmo, um pinga pinga... Mas sempre pinga. E como é assim, eis que entra um freguês, vestido de preto, com algo que parecia um evangelho, ou uma bíblia, embaixo do braço. Usava um barrete na cabeça de cabelos caídos em cachos laterais, emoldurando uma extensa barba. Não, não era um português.

O visitante entrou e foi bisbilhotando o que havia em oferta por ali. Num canto da loja, atulhada de badulaques, um gato lambia leite numa tigela.

O homem - um dissimulado colecionador - botou o olho na vasilha e viu logo que se tratava de uma raríssima peça de porcelana chinesa. Dinastia Ming, com certeza; coisa do reinado de Jiajing.

O Garanhão aproximou-se para melhor atender o cliente. E ganhou sua atenção:

- Que gatinho lindo. O senhor quer vender?
- Vendo sim, por R$ 2.500 o senhor pode levar...
- Tá caro, mas meu filho vive me chateando por um gatinho... Vou levar. Pode ser cheque?
- Pode sim.
- Então, tome...
- Muito obrigado... Ó, o gatinho é seu.
- Posso levar a tigelinha onde ele está acostumado a tomar leite?
- Ah, infelizmente não... Não posso lhe dar a tigela.
- Ora, por quê não?
- É que ela me dá muita sorte. Por causa dela já vendi mais de vinte gatinhos lindos como esse aí.

O rabino saiu com o rabo do gato entre as pernas. Antes mesmo de chegar em casa, deu o bichano de presente para uma vizinha que lhe disse ter uma filha louca por gatos.

MORAL DA HISTÓRIA - Nunca deve se julgar enganado aquele que reconhece o seu engano.