Uma coisa é o que sai nos jornais; o que dá nas TVs; o que se escuta nas rádios... Outra coisa é a vida como ela é...
O Brasil de hoje tem um presidente antigo e uma nova presidente que - à moda PAC - ainda não saiu do papel. Está eleita e tudo, mas não manda nada. Parece normal. Parece, mas não é. Dilma não aguenta essa coisa de esperar sentada. Com ela é, ou dá ou desce.
Afinal, quem é que manda nessa casa grande e senzala? Aquele que já está com o pé na estrada, ou aquela que chegou para ficar?!? Epa! Ficar, até pode... Desde que seja por quatro anos. Mais do que isso, Lula também quer e gosta. Por mais que seja matreiro e dissimulado, Lula não aguenta essa coisa de esperar sentado. Chega a um ponto que com ele é dá, ou desce.
Sentiram a similaridade? É genérica - ops! - genética. Herança maldita de criador para criatura. E, antes que um coma a outra e a outra coma o um, é bom esclarecer que o noticiário mostra uma enormidade de poções milagrosas, mas não revela a bula daquilo que dá azia.
Azia certa, por exemplo, é Dilma ter que engolir Mantega só porque Lula passou adiante e colocou tudo em pratos limpos - a sua rude moda, é claro.
Na hora do banquete dos cardeais, Dilma Vana foi mais indigesta: desconvidou Celso Amorim para o regabofe dos 20 mais ricos. Lula ficou sem intérprete no encontro multilíngue.
E deu o troco, em seguidinha: na hora do discurso no G20 pediu sussurrante que Dilma se retirasse do recinto, sob a sutil alegação de que "seremos dois presidentes no mesmo local". Fisicamente isso seria impossível - dois corpos não ocupam o mesmo espaço - mas, politicamente, impossível seria imaginar tamanha grosseria.
Então uma circunspecta senhora atravessa os oceanos para pagar um mico desses? Se era para não ir, por que levou? Sabe-se lá por quê! Afinal é capricho de Criador, de Presideus... Vivo fosse, o poeta-diplomata Vinícus de Morais perguntaria, como cantando perguntou a Deus a respeito do mundo: - Se é pra desfazer, por que foi que fez?...
Há horas que o Supremo Tribunal Federal vem empatando tempo, dinheiro e escore nas questões mais sérias desse país: 5 x 5. É que Lula não usou a prerrogativa antes de Dilma chegar às eleições de 31 de outubro. Agora quer nomear, mas Dona Flor pediu para que a responsabilidade de acabar com o voto de Minerva seja assumida por ela. Uma questão de futuro prestígio pessoal. Lula acha que isso é tipo assim, pregar moral de lingerie.
Outra brasa viva nesse rescaldo de fogueira das vaidades é a ocupação da cadeira de espaldar alto do Senado. Lula quer Sarney sentado por lá; Dilma abre as portas para Renan Calheiros. Nem é por questão de simpatia, apenas para que ele sirva como chave de cadeia para atacar os ímpetos de um perigoso mordomo de filme de vampiros.
O Sarney de Lula, seria enrolado por Michel Temer; o Renan de Dilma, enrolaria o melífluo vice-presidente fascinado pelo poder.
Para chegar onde chegou, Dilma teve que ser bem mais que o poste iluminado por Lula. Teve que se curvar ao risco incomensurável de ser refém do PT e seus coalizados para chegar ao Palácio com maioria no Congresso. Isso não vai lhe sair barato. Sai caro. Vai ter que comprar o que já é de Lula já. Sem o PT Dilma não governa. Lula é, mais que presidente de honra, amo e senhor do PT. Lula vai ser presidente do Brasil ainda por muito tempo.