30 de ago. de 2010

Jornalismo com patrão não tem coluna vertebral

O Jornal do Brasil, o velho JB cansado de guerra chega às bancas pela última vez amanhã. Dívidas e baixa vendagem levaram o diário de 119 anos a optar pela internet como única plataforma. Se continuar dependendo da verba dos mesmos patrocinadores oficiais que lhe adoçaram a boca por mais de um século, o JB Virtual vai dar os doces mais cedo ou mais tarde. Deve aproveitar o tempo web para contar as verdadeiras razões de sua derrocada.

Um jornal é como um grande craque de futebol. O jogador não pode perder suas virtudes para as exigências de um bom contrato; o jornal não pode entregar sua opinião e nem suas pautas para os grandes patrocinadores. Nos dois casos haverá sempre uma irremediável perda de identidade.

Se o presidente do clube passa a dizer ao craque como é que ele deve dominar a bola, dar o drible, chutar a gol - melhor seria escalar o presidente; se o governo - maior patrocinador do país passa a dizer como deve ser escrito o editorial, como e com quem devem ser feitas as entrevistas, o jornal perde a coluna vertebral, sua única e verdadeira base de credibilidade.

Jornalismo não pode ter patrão. Opinião não pode ter preço. Quem escreve em nome de estatais não pode informar sobre política. As colunas de suas páginas perdem a força para os logotipos governamentais; não formam opinião - editam conceitos sob encomenda.

O jornal deixa de ser um fator de transformações sociais e vira uma simples, volumosa e desgastante sinopse da história oficial, que não causa azia aos governantes, mas tanto mal faz ao fígado dos jornalistas que se deixam seduzir pela mais antiga forma de chantagem escrita: o toma-lá-dá-cá.

RODAPÉ - O que o Garanhão de Pelotas mais teme, está explícito lá no rodapé do título do blog Sanatório da Notícia: Você tem que ter medo é do que o governo é capaz de fazer com qualquer um.