9 de ago. de 2010

A Ficha de um Imbatível

Essa história de Ficha Limpa - ainda que cheia de boas intenções - é escassa e serve como salvo-conduto. E não raro, justamente para aqueles que por esperteza, arte e manha não deixam marcas nas fichas que mandam lavar.

Em outubro, como de hábito, somos obrigados a votar em alguém que os donos dos partidos escolheram por nós. Quem não cumprir esse direito constitucional é multado e ainda passa por incivilizado e antidemocrata.

Saber que o cara é um ficha-limpa é pouco, muito pouco. Você tem que perguntar qual é a ficha completa do postulante. Quais são as suas aptidões; ele é bom em quê? É casado, tem filhos? É bom pai, bom chefe de família? Dá propina só para garçom? Não rouba para ganhar o pão nosso de cada dia? Sabe tudo de saúde, previdência, educação, transporte, trabalho, turismo, segurança, esporte, higiene, comida em cima da mesa, igualdade social, qualidade de vida, justiça, lei, ordem e progresso?

Se a figura para quem você está perguntando isso concorre à Presidência da República, ao Senado, à direção-geral do balcão da sua loja, ou à chefia da mesa dois ali do bar da esquina, vai ter que ser bom, bonito e barato nessas coisas todas. E bem melhor do que você. Do contrário, a ficha dele sujou. E você dançou.

Se, assim mesmo, por força de lei, você votar em algum deles, em qualquer deles, fique sabendo que a carteirinha do partido ao qual seu filho se associou vale dez vezes mais que o diploma da universidade que você se danou para pagar e garantir que ele fosse doutor. Dez vezes mais é força de expressão. A carteirinha só vale mesmo dez vezes mais que qualquer diploma se for do partido do governo.

E então, só para ficar inserido no contexto, assim que o candidato for eleito, você se vinga: dá-lhe um carteiraço e ganha uma terceirização em cargo público na mesma hora. Aí, só tem uma coisinha: você vai ser do mesmo time de aloprados, sanguessugas, vampiros, panetoneiros, vavás-de-luxo. O resto é lixo. Ou bolsa-familiarizado.

Quem sabe, lá no fundo, bem no fundo da alma do seu filho, não se esconde um Zé Dirceu, um Palocci, um Jader Barbalho, um Zé Arruda, uma Eurides Brito, um Joaquim Roriz, um Sarney, um Collor, um Renan, ou - quem nos dirá que não? - uma versão condensada de todos eles num só?!?

Sorria! Você é um pai gótico, acaba de criar um hodierno Victor Frankenstein brasileiro. Esse monstrengo nas urnas será imbatível.