9 de set. de 2010

Um Dry Martini para brindar a Independência

Estava apenas começando para o Garanhão de Pelotas mais um feriadão do 7 de Setembro - aniversário da independência do Brasil que abriu as portas para os democratas e republicanos que andam festejando por aí. Era o entardecer de sexta-feira, um já longínquo dia 3. A tarde permissiva, caía de mansinho deixando chegar a noite. Tinha um belo ocaso por testemunha.

O céu de Brasília tinha as cores que só as lentes curiosas de Mike Ronchi - A Máquina de Fotografar conseguem capturar. Lindas de se ver, ainda mais da sacada do solar do Garanhão que dá de frente para o Nordeste que começa no Centro-Oeste com Planaltina de Goiás, Formosa, Cristalina e se vai para as areias de Fortaleza, dos melhores preamares que se escancaram para o mundo.

Melhor ainda, quando - com um violão no colo - se sorve lenta, preguiçosamente, um Dry Martini à moda Winston Churchil: duas doses generosas de London Gin, espraiando-se numa pedraria de gelo, uma azeitona furada por dois palitos navegadores e um breve olhar para a cristaleira onde se encontram as garrafas de Martini seco.

Mike olha para o Garanhão e fala de política, assim por falar: - Você vai mesmo anular o voto?
- Com certeza. Nada contra Zé Serra, Dilma ou Marina; nem a favor... Muito pelo contrário.
- Como assim?
- Ora, Mike. Isso aqui não é a Itália. É o meu Brasil izoneiro...

Aí, uma pequena pausa para calar o som de Tom e Vinícius que saía da meia dúzia de acordes que o Garanhão sabe tocar, um gole a mais no zimbro e cereais destilados e a fastidiosa explicação:

- Bolas, Mike... Não é porque se trate de Serra, Dilma ou Marina. Não voto porque é mais uma eleição. Sou independente. Ninguém me obriga a nada, muito menos a votar. Quando o voto for um direito e não uma obrigação, eu serei de novo um eleitor.
- Simples assim?
- Nem tanto. Volto a votar se for para eleger os candidatos a candidatos. Hoje, ao invés dessa gente escolhida por gente como essa gente, prefiro os meus vizinhos aqui da rua onde moro.
- ?!?
- Eles não me pedem nada, nem me prometem nada; como eu também não lhes peço, nem prometo coisa alguma. Mas eu sei e eles sabem que quando for preciso, podemos contar uns com os outros.
- Hmm, faz sentido.

Um breve silêncio cercou mais uma dose e, antes que o violão gemesse outra vez, o Garanhão de Pelotas murmurou com um pequeno sorriso repuxado para o lado direito da face:

- Ainda assim veja bem: por aqui, as janelas tem grades e todos os quintais tem muros.

Ali ao lado, logo abaixo, do outro lado do jardim - a mulher do vizinho mal escondida dentro de um biquini, saía da piscina, rumo a um Martini com cereja. Doce Martini. 

Lá bem à frente, até à linha do horizonte, as luzes da cidade de Sobradinho - encravada um pouco pra lá da chamada Região dos Lagos - saudavam a lua gigante que se exibia nua, inteira e extasiadamente nua. O feriadão estava apenas começando...