2 de set. de 2010

Esquina do Aquário


Pelo menos uma vez por semana, o Garanhão de Pelotas, vai editar as crônicas "Esquina do Aquário", cujos direitos autorais acaba de comprar do jornalista Sérgio Siqueira.

Assim é que, ninguém estranhe o fato de passar a ter contato aqui neste espaço web com figuras notáveis do folcrore da cidade de Pelotas, aquela que Sérgio diz ser "uma pátria pequena que eu tenho no Sul".

Bobageira

O pomposo nome do médico Luiz Roberto Bittar Real esconde um versátil personagem aquariano que atende, nas horas vagas, pelo codinome de Nanico. Ele conta e protagoniza casos engraçados e calculadamente singulares. Quem é da esquina sabe disso. Aqui vai um dos tantos...

Ayrton Senna morrera ontem aos olhos grossos de Galvão Bueno e do mundo. Nanico, bem mais que um bom piloto de cafezinhos matinais, sempre foi um atento e quase fanático observador do automobilismo.

Pois, certa manhã, estacionado na orla do Aquário, Nanico se deliciava com a escalada do gerente do café da fauna citadina por uma escada que o alçava até o televisor do salão de fofocas. Ele e o gerente, por sua vez, eram observados por um solitário e eventual cliente madrugador, pouco afeito às doidices do lugar.

O cheiro de carne fresca no pedaço aguçou o espírito-de-porco dos dois - Nanico e  Ronaldo, o gerente. Passando os olhos pela tela do televisor, os dois encenaram um besteirol para os ouvidos desprevenidos do espectador matinal:

- Nossa, Nanico, você viu aqui o que deu na TV, o Ayrton Senna morreu.
- Ayrton Senna? Esse nome não me é estranho...
- É aquele que ganha tudo que é corrida  e sai com a bandeirinha do Brasil na mão.
- Morreu... Coitado! E do que foi que ele morreu?
- Bateu as botas.
- As botas?
- As botas e o carro. Ele sentou a bota e carro bateu na curva dum tal de Tamborello.
- Onde foi isso?
- Em Madagascar, capital do chiclete com banana.
- Pô, e os jornais de hoje não dizem nada, quando foi isso?
- Parece que foi ontem...
- Ah, bom. Então é por isso que eu não sabia de nada. Ontem eu tava em Porto Alegre.

O observador eventual largou a xícara do cafezinho no balcão e saiu de fininho, pasmo com a bobageira trocada entre os dois frequentadores habituais do Aquário. Era só mais um dia que começava na esquina mais insensata da cidade.