26 de jan. de 2012

Fairplay

Já que ninguém dizia isso, eu mesmo digo: fui um craque na modalidade futebol-da-bola-pequena. Jogava um bolão no futebol de salão. Rima, mas pode não ser verdade. Em todo caso, a minha paixão pelo esporte me dava o direito de ser magnânimo e de aceitar qualquer convite para jogar em times de segunda, de terceira e até de quinta categoria.

Jamais perdi um confronto entre casados e solteiros; nem deixei de fazer um pezinho naquelas peladas entre as equipes de rádios ou jornais e seus patrocinadores. Era um come bola. Um prostituto das quadras e ginásios. Na realidade, um apaixonado por qualquer tipo de futebol.

Naquela noite de sexta-feira, montamos o time lá da quadra sete do condomínio Las Figueras e fomos enfrentar um esquadrão do glorioso 9° Regimento de Infantaria, o Batalhão Tuiuti Futebol Clube. Na casa deles. Um ginásio bem construído e melhor conservado, como é do tamanho e feito das coisas do Exército. Afinal, quem tem mão de obra barata e diversificada como a dos recrutas, pode esbanjar serviço de limpeza e brilho. Até nos coturnos.

O jogo no primeiro tempo foi ótimo: 1x1. O nosso gol foi meu, claro. Na segunda fase faltou energia. Não, luz tinha de sobra; faltou energia para o nosso time. No meu bando de pernas-de-pau, eu corria por todos e todos não corriam por mim.

Quando vi, o placar era de 6x1 para os milicos. Louco para que o massacre chegasse ao fim pedi para bater uma falta na beira da área deles. Faltava talvez um minuto para terminar. Nos preparativos para a cobrança, levantei os olhos e dei com eles numa frase de puro fairplay e profundo espírito olímpico afixada no paredão dos fundos da quadra: "Lute, ainda falta um segundo"!

Corri para a bola. Passei por ela e... fui direto para o vestiário. Tomei meu banho, não falei com ninguém e nunca mais joguei no Las Figueras.

MORAL DA HISTÓRIA - Desgraçadamente eu sou um daqueles poucos que têm paixão por uma coisa sem querer tirar dela qualquer ensinamento. Desgraçada, ou felizmente.