Sempre gostei de mesas de bar. Dali saem coisas assim de repente que qualquer divã levaria de dez a quinze sessões para fazer brotar.
Eu sorvia minha vodca finlandesa com pedaços de laranja na casca, enquanto lia o jornal do dia e escutava o papo de política que dois velhos amigos pinguços exercitavam, naquela manhã já quase meio-dia.
Em dado momento, os ânimos se exaltaram. E os dois companheiros cientificamente álcoolpolitizados perderam as estribeiras e passaram a uma audível troca de gentilezas. O mais agressivo exclamava; o outro era duro també, porém mais reticente:
- Você é um imbecil!
- E você, um idiota...
- Pulha!
- Biltre...
- Calhorda!
- Papalvo...
- Mequetrefe!
Porra, mequetrefe?!? Aí lembrou petismo. O reticente, inspirou-se e diante daquela ofensa, não admitiu a pecha de vagabundo, tomou fôlego e despejou em cascata para acabar com o duelo verbal:
- Zé Dirceu! Delúbio! Lula!!!
Deu as costas e foi para o lado de lá do balcão falar de praia, churrasco, festas de fim de ano, numa roda mais calma e serena de companheiros de birita. Seu olhar revelava a empáfia dos vencedores. Mesmo que o duelo fosse só um vitupério
MORAL DA HISTÓRIA - Até mesmo entre dois amigos de copo, uma mesa de bar tem limites para as coisas do mundo politizado.