2 de jan. de 2012

O Resmungão

Fernandinho, o Conde Xixi, era um dos pavios mais curtos da minha patota dos Anos-50. Tinha sempre um palavrão na ponta língua. Seu mau-humor servia para todas as ocasiões.

Estava de mal com mundo em qualquer situação. Pró ou contra. Não era bom e batuta, mas era um bom companheiro. Parceiro para o que desse e viesse. Mas neurastênico a dar com um pau. Para ele, Sal de Fruta Eno era refresco.

Sei do seu pessimismo crônico porque a gente habitava o mesmo cômodo de uma república estudantil. Naquele dia esplendoroso de verão, Fernandinho levantou-se do seu beliche, lá pelas oito horas de um novo amanhecer. Abriu a janela que dava para o jardim do antigo e respeitável prédio, nas cercanias da universidade e encontrou-se com a vida.

Inspirou profundamente e espreguiçou-se com enorme e calculada lentidão. E aí, eu o assisti pensando em voz alta:

- Que dia bonito!

Nem tive tempo de me surpreender com o seu rasgo de otimismo e bom humor. Ele completou sem tomar fôlego:

- É, mas isso não vai durar muito... Que merda de dia bonito!

MORAL DA HISTÓRIA – Para um pessimista ver a vida com bons olhos é coisa de hipocondríaco.