Pra quê?!? Dei de cara com a minha mulher de então deitada na nossa cama com um cara que não tinha nada a ver comigo.
Saquei o revólver – sempre carrego um comigo para essas ocasiões – e já ia metendo bala nos dois, quando parei para pensar.
Em frações de eternos segundos passei os últimos tempos do filme da minha vida de casado. Tive que reconhecer: minha esposa já não me pedia dinheiro para comprar carne, nem para comprar vestidos, sapatos, jóias, ainda que andasse sempre no it da moda.
E fui vendo: os meninos saíram da escola pública para a privada. Minha mulher me ajudou a trocar de carro; as compras no supermercado nunca foram tão fartas; as contas de luz, água, telefone, internet, celular, cartão de crédito, estavam todas em dia.
Pensei melhor. Guardei a arma na cintura e fui saindo de fininho. Pé ante pé que é melhor para uma boa análise de tudo que nos diz respeito que é bom e todo mundo gosta. E voltei pra segunda sessão do cinema da esquina que já ia começar. Voltei meditando com profundo discernimento:
- Esse idiota paga o aluguel, o supermercado, a escola dos guris, água, luz, telefone, carro, shopping, todas as despesas da minha casa e eu ainda vou pra cama com a minha esposa todas as noites...
Cheguei à bilheteria. No momento preciso de pagar o ingresso, pensei em voz alta, surpreendendo a garota atrás do guichê:
- Pô, o corno é ele!
Estupefata, ela não entendeu nada. Certamente pensou que eu talvez já soubesse o fim do filme.
MORAL DA HISTÓRIA – Aquele que se põe em guarda contra quem o trái é, cabalmente, aquele em cujo favor os traidores cometeram a traição.