Dona Mariana era para mim o que Dilma é para Luiz Erário Lula da Silva, uma governanta. A diferença é que ela era uma boa governanta. Ela cuidava de minha residência no Lago Sul com enorme eficiência. Não dormia no emprego.
Todo santo dia, ia e vinha para cumprir suas obrigações. Na minha e na sua casa. Naquela quarta-feira, cerca de cinco da tarde, dona Mariana tomou - como de hábito - o coletivo para a cidade-satélite de Samambaia.
O ônibus estava quase lotado. Achou um lugar vago ao lado de um passageiro de feições rudes. Acomodou-se sem dizer e nem receber palavra. No trajeto do Plano Piloto para a região do Entorno o carro foi ficando lotado.
Com o vaivém do ônibus, volta e meia dona Mariana levava um cutucão do parceiro de viagem. O cara era meio incômodo, meio atrevido. Dona Mariana se defendia como podia. Não queria fazer escândalos, muito menos alardear um assédio sexual. Foi aguentando.
Lá pelas tantas, desperta da modorra, ela quis saber as horas, olhou para o pulso e - surpresa! - seu relógio tinha desaparecido. Desaforo!
Não teve dúvidas, abriu cuidadosa e lentamente a bolsa, tirou uma tesoura de unha e, moto contínuo, de mão trocada para que ninguém notasse, encostou com firmeza a ponta do pequeno e agora perigoso artefato nas costelas do safardana. Entredentes bafejou no ouvido do punguista:
- Passa o relógio. Vamos, passa o relógio!
O homem tomado de medo diante da iminência de um barraco e uma reação imprevisível, entregou o relógio em silêncio e sem reclamar. Na primeira parada ele desceu, calado, cara fechada e sem olhar pra trás.
Dona Mariana, enfim, chegou ao seu destino. Desceu, entrou em casa e foi conferir a bolsa. Lá estava o relógio. Mas - porra! - não era o dela. Era um relógio de homem. Do homem que ela ameaçara. Um bom relógio, melhor que o dela.
Dona Mariana quase morreu de vergonha quando, ao colocar sua bolsa em cima da mesa da sala, deu de cara com o seu próprio relógio. O relógio que ela esquecera de colocar no pulso antes de sair pela manhã para fazer faxina na minha casa no Lago Sul.
MORAL DA HISTÓRIA - O medo e a desconfiança são os mais injustos e cruéis conselheiros das pessoas de bem.