3 de jan. de 2012

A Tosse

Eu já estava na melhoridade. Bolas, o Garanhão de Pelotas não é Lula nem Sarney para ser imortal ou imune aos séculos. Por isso e pela idade, eu gozava das liberdades que o tempo nos empresta quando já se colecionou aniversários sem conta.

Flatulência, por exemplo. Flatulência, para os idosos, é uma coisa que dá e passa. Com a maior naturalidade. A qualquer momento, em qualquer lugar, em quaisquer circunstâncias.

Claro que, diante de eventuais visitas, na frente dos filhos, de convidados, necessário se faz tomar a devida precaução. E eu tomava cuidados, ora. Principalmente com os ruídos. Os odores eram disfarçados com olhares severos e denunciadores lançados maldosa e cinicamente à vitima mais próxima. O culpado era sempre aquele outro ali.

Para o som, eu tinha, digamos, uma boa saída: tossia alto e forte no exato momento do execrável pum.  E tantas vezes tossia quantos fossem os gases espúrios expelidos

E dando-me por satisfeito, eu me habituara a disfarçar meus mistérios. Toda noite, estivesse quem estivesse na sala, na cozinha, no carro, eu promovia um festival de tosse. E assim foi por muito tempo, até que uma das minhas incontáveis filhas de outros tantos casamentos, resolveu me repreeender na frente do seu namorado em plena sala de estar:

- Pai, pára de tossir. Essa sua tosse infestou a sala. Ela vai acabar nos matando!

MORAL DA HISTÓRIA - Na vida até o que se ouve pode falar mais alto do que se pensa.