4 de jan. de 2012

Premonição

Por capricho do destino, estavam naquele mesmo vôo da Transbrasil de Brasília para Porto Alegre, com escala em São Paulo, Zé Dirceu, Nelson Jobim e Pedro Simon. A bem da verdade, diga-se que cada um deles entrou por seu turno e cada qual foi se encontrando com os outros pelo corredor da aeronave.

O mesmo corredor de passageiros comuns, por onde eu me acomodava com Silvinha, minha noiva de weekends nos Pampas. Embora com larga milhagem e velha macaquice em viagens aéreas, nunca deixei de sentir aquele certo friozinho no estômago a cada decolagem.

Muito mais perspicaz do que supersticioso, ronronei para a minha gatinha ruiva, já dona de seu assento ao lado da janela:

- É muito político para um só avião... Não deve ser a vez de todos deles baterem as botas.
- É pouco provável – filosofou Silvinha – esse vôo é seguro.

Eu já estava me aprumando para sentar-me a seu lado, quando um arrepio de premonição me cutucou a imaginação:

- Mas e se for a vez do Piloto?!?

Saí do avião com Silvinha e fui refazer o check-in. Viajamos menos de duas horas depois, pela Varig. Voo direto, sem baldeação em Congonhas. Chegamos a Porto Alegre na mesma hora em que chegaríamos pela Transbrasil.

Do saguão do aeroporto Salgado Filho, olhamos para o campo de pouso. Carros de bombeiro, ambulâncias e um grupo de paramédicos se movimentavam na cabeceira e às marginais da pista, voltados com uma enorme expectativa para o céu de brigadeiro do Rio Grande do Sul.

Um Boeing-737 com o prefixo e as cores da Transbrasil descia em velocidade bem acima do que ordenam os manuais para realizar o que seria uma aterrissagem de procedimento normal.

MORAL DA HISTÓRIA – A presunção de saber o futuro é uma espécie de rebeldia contra os deuses e uma competência louca que se transforma em prudência.