Fui à festa de arromba do casamento da filha de um velho companheiro de bancos escolares. O cenário escolhido foi um sítio do tamanho de uma estância, entre Canela e Gramado. Um festão.
Tinha gente que não acabava mais. Alguns velhos conhecidos, outros nem tanto e muitos absolutamente nunca vistos ou por mim imaginados.
Dentre os convivas, vislumbrei uma verdadeira lenda viva. Um colega de ginasial. Daqueles que entram na escola bem depois que a gente já capitulou às vontades da mãe e às ordens do pai. Ialtamiro, o bom e batuta Ialtamiro, pelas minhas contas, já beirava os 80 anos de idade.
Cheguei-me ao longevo amigo a quem não via fazia muito e muitos anos. Algumas décadas, na verdade. Dei-lhe um forte e caloroso abraço. Ele, diplomaticamente, correspondeu. Abraçou-me como se ainda soubesse com quem estava falando:
- Que prazer ver você novamente!
- Que alegria - respondi ao vetusto enganador.
- De que cidade você veio aqui pro casamento? - pesquisou-me, querendo caçar minha identidade.
- Vim de Pelotas, Ialtamiro.
- Ah, sim, de Pelotas... Eu gosto muito daquela cidade. Estudei lá.
- Eu sei...
- A última vez que estive lá, faz tempo, foi pro casamento de um grande amigo, o Garanhão de Pelotas.
- Pois eu também estava lá.
- Você foi ao casamento do Garanhão?
- Fui, Ialtamiro... Eu era o noivo.
- Garanhão, meu amigão!!! Por Deus Nosso Senhor, eu jamais te reconheceria...
- Entendo. Faz muito tempo...
- Não, não. É que você tá gordo, careca e parece mais velho que eu.
Fingi que não ouvi. Abracei-o com afeto e o acompanhei até à mesa de doces, bem perto do bolo. Providenciei-lhe uma taça de guaraná e fui rever outros antigos parceiros.
MORAL DA HISTÓRIA - Depois de quase uma década de décadas, a memória é um espécie de paraíso de onde fomos desterrados. Ainda mais quando alguém se chama Ialtamiro.