Tive meus dias de Palácio do Planalto. Nem mesmo o Garanhão de Pelotas é de ferro. Como assessor de projetos especiais da Secretaria de Comunicação daquele presidente baixinho que gostava mais do "cheirinho de cavalo do que do cheiro do povo", meus momentos de happy hour eram repartidos pelos bares dos arredores da Esplanada com o pessoal da segurança palaciana
Antes que eles tomassem o terceiro chope - hora em que se calavam para sempre sobre qualquer assunto palaciano - os arapongas até que eram bem divertidos. Contavam uma em cima da outra; poucas e boas
O Perninha Torta era um número. Boquirroto, não perdia a chance para dar bola fora. Essa do cheiro do cavalo foi uma. Estragou toda o esquema de marketing que preparavam para popularizar sua imagem.
Outra catilinária foi a daquela manhã de sábado, quando uma criança de uma escola pública da cidade-satélite de Taguatinga lhe perguntou, diante das câmeras de TV e dos microfones dos repórteres setoristas do Palácio, o que ele faria se ganhasse salário mínimo. "Metia uma bala na cabeça" - respondeu de imediato, com um sorriso, enquanto afagava o rosto da inocente criaturinha.
Dentre muitas historietas, saíam sempre algumas inconfidências de aventuras furtivas do espevitado presidente. Era um fincão de primeira. Sempre que podia, dava uma escapada para pular a cerca.
Era cuidadoso. Toda vez que saía para encontrar uma determinada e dadivosa dama da Corte, vestia-se de motoqueiro, dos pés à cabeça; macacões adequados, luvas, botas e o indefectível capacete que o protegia não só de eventuais quedas de sua pontente máquina de duas rodas, como resguardava a sua identidade.
Era assim que se livrava da curiosidade da mídia, sequiosa por deslizes presidenciais.
Nessas escapadelas de alcova, o homem cometia pecados que levavam os guarda-costas à loucura: bolas, a moto era a única no Brasil naquele tempo com 750 cilindradas; toda verde e amarela, era um espanto; ele era patrulhado, pelo percurso inteiro, por um comboio de dois Gálaxies LTD Landau presidenciais na frente e dois atrás; o fujão arrancava dos fundos do Palácio a 150 km/h rumo ao mesmo sítio, na região dos Lagos; assim que chegava ao jardim da residência dos furtivos encontros, ele descia da moto, caminhava resoluto com suas pernas arqueadas de cavaleiro republicano, rumo aos braços e abraços de mais um momento de lazer clandestino, com a cara e a coragem... De capacete embaixo do braço!
MORAL DA HISTÓRIA - A pompa e a circunstância de um disfarce oficial não esconde a fantasia de um presidente bom de cama. E, em casos de alcova, nenhum disfarce é usado para esconder aquilo que se deseja que os outros saibam.