4 de jan. de 2012

Alfajores no ar

Agente secreto do Departamento Internacional de Combate a Presidentes Analfabetos (DiCopa), eu viajava disfarçado de turista incidental rumo a Amsterdã. A meu lado, numa estrinicada poltrona de classe executiva, uma lourinha estagiária de jornalismo esportivo curtia o seu primeiro voo internacional.

Embarcáramos - cada um a seu modo e seu lugar - em Guarulhos, num voo da carcomida Alitália. Coube-lhe o lugar a meu lado. Que bom, foi agraciada com a janela.

Ao natural e com o espírito aguçado dos espiões internacionais, fiquei sabendo assim como quem não quer nada, que a garota viajava para cobrir um Mundial de Hipismo, em Heindhoven, na Holanda.

Comme d'habitude em aviões de carreira, reclinei-me para encerrar o papo fingindo que adormecia - mantendo-a, no entanto e de soslaio, com um olho no padre e outro na missa, como faz bem aos que trabalham em sigilo.

Concluídos os procedimentos para decolagem, as aeromoças já circulavam lépidas e faceiras pelos corredores da aeronave. Distribuíam jornais, revistas, leituras de bordo e uma coisinha lá que outra: mantas térmicas, travesseirinhos e agradinhos assim.

Dentre tantos mimos, a jovem estagiária de primeira viagem ganhou o que identificou logo como dois minúsculos alfajores. Retirou-os da embalagem de papel celofane e prontamente e sem cerimônia colocou-os na boca.

Na primeira mordida sentiu que precisava ter estômago para engolir aqueles achocolatados holandeses. Não conseguiu digerir aquilo.

Disfarçadamente retirou os alfajores da boca. Sem se deixar notar, examinou-os atentamente. Corou. Dissimulada, guardou-os no bolso da jaqueta de reportagem que estava estreando.

Só depois de meia hora de voo é que voltou a usá-los. Aí, sim, de maneira correta. Colocou um em cada lado de sua linda cabecinha, no lugar para o qual aqueles pequenos artefatos tinham sido criados com a moderna tecnologia que os fones de ouvido ostentam nessas linhas aéreas internacionais. Seu sabor era péssimo, mas para ouvir aqueles alfajores eram ótimos.

MORAL DA HISTÓRIA - Em qualquer ocasião, mesmo sendo uma loirinha estagiária de jornalismo, todo apressado come cru.