Sou um internauta de respeito. Todo dia, antes que o motorista do meu Hyundai Azera, cor de prata como a lua que expressa as minhas múltiplas personalidades, viajo pela internet como um desbravador de mares nunca dantes navegados.
Sou um misto de Cristóvão Colombo, garanhão pelotense, perdido pelas belezas das índias, com Pedro Álvares Cabral, sonso e lusitano, tentando do alto de minha redundância, botar o ovo em pé.
No início da semana passada, já instalado no gabinete do imortal presidente da maior casa de tolerância nacional, joguei-me às lides de lobista explícito, não me livrei da tentação e sentei-me à frente de um dos mais de dez exemplares de high generation computers que o Pai dos Marimbondos de Fogo tem, às custas do Erário*, em sua antessala acadêmico-presidencial.
Fundilhos presos à cadeira de belo espaldar, cerca de cinco imortais minutos depois, entrei em pânico. Mostrava-se-me teimosa a tela - tinha vida própria e linguajar apropriado - teimosa e absolutamente estática.
Não atendia a qualquer comando de minhas vontades, não sinais de submissão a qualquer mísero sinal do tal comundongo informatizado que o vulgo chama de mouse. Porra, até meus netos, dominam essa técnica de comunicação hodierna!
Tentei, tentei e retentei denodadamente na movimentação do pequeno artefato que nos liga com a vida e o mundo virtual. Nada. Porra nenhuma. Nem aquela porra que usei para acudir ao talento dos filhos de meus filhos, meus netos gênios nerds do inefável mundo da informática.
Levei mais de dez imortais minutos - essa porra da proximidade com um fardão, contagia inexoravelmente - na batalha contra aquela inusitada inércia do ratinho cibernético.
Levei e... Levei! Oba, o mouse reagiu. O mouse vibrou na palma da minha mão! Parecia que criava vida, saltitava e grunhia.
Foi só então que me dei conta de que estava manusenado há dez intermináveis minutos, nada mais e nada menos do que o celular ao invés do mouse.
Bosta! Que fiasco. Não atendi a chamada. Desliguei. Coloquei o celular no bolso da camisa de linho egípcio e me senti uma múmia.
Olhei para os lados, ri de mi mesmo. Levantei-me e encerrei o expediente. Naquela manhã eu não tinha ânimo para mais nada, muito menos para uma puxada jornada de tráfico de influência.
RODAPÉ - (*) Erário, segundo nome próprio do Luiz que é também conhecido por Lula da Silva.
MORAL DA HISTÓRIA - Presta atenção na vida, cara! Com a atenção notamos as precisosidades e as colocamos em nosso acervo; com a distração deixamos cair ao solo o ouro e as pérolas como se fossem coisas triviais.