Eu estava naqueles dias. Meio menstruado da cabeça. Sem paciência fui me remoendo à medida em que, no meio da roda de aposentados e malandros em torno de nós, ele rebatia tudo que eu dizia a respeito do Brasil e do Pelotas, os dois maiores adversários do campeonato gaúcho, afora a tão desprezível quanto imbatível dupla Gre-Nal.
Sei lá que besteirada ele disse. Só sei que era mais uma. Perdi a paciência. E vituperei pra cima dele:
- Você é um descalcificado!
Foi a gota d’água. Ele escancarou um riso irônico e não perdeu a oportunidade de me corrigir uma vez mais na frente dos outros:
- Descalcificado?!?
- É descalcificado, sim!
- Tá, deu pra ti. Não vou discutir mais. Tu é uma toupeira, Garanhão... Não é descalcificado. Tu quis dizer desclassificado. Des-clas-si-fi-ca-do!
- Toupeira é quem chama. Tu é descalcificado, sim! Tua mulher te mete guampa há anos e até hoje não nasceu chifre nessa tua cabeça!
A roda se desfez na mesma hora. Ele nunca mais veio me encher o saco, quando me encontrava pelas ruas de Pelotas, por mais sozinho que andasse e mais quisesse bater papo com alguém.
MORAL DA HISTÓRIA – Ainda que todo o progresso esteja baseado na paciência, toda a sociedade se revela na intolerância.