7 de jan. de 2012

INTOLERÂNCIA

Aquele cara era um chato. Toda vez que me encontrava pelas quebradas da cidade, me pegava pra peteca e queria discutir futebol.
Só porque, naquele lugar do passado, eu trabalhava como cronista esportivo de um dos jornais da minha patriazinha lá no Sul, ele achava que eu não fazia outras coisas na vida.

Eu estava naqueles dias. Meio menstruado da cabeça. Sem paciência fui me remoendo à medida em que, no meio da roda de aposentados e malandros em torno de nós, ele rebatia tudo que eu dizia a respeito do Brasil e do Pelotas, os dois maiores adversários do campeonato gaúcho, afora a tão desprezível quanto imbatível dupla Gre-Nal.
Sei lá que besteirada ele disse. Só sei que era mais uma. Perdi a paciência. E vituperei pra cima dele:

- Você é um descalcificado!

Foi a gota d’água. Ele escancarou um riso irônico e não perdeu a oportunidade de me corrigir uma vez mais na frente dos outros:

- Descalcificado?!?
- É descalcificado, sim!
- Tá, deu pra ti. Não vou discutir mais. Tu é uma toupeira, Garanhão... Não é descalcificado. Tu quis dizer desclassificado. Des-clas-si-fi-ca-do!
- Toupeira é quem chama. Tu é descalcificado, sim! Tua mulher te mete guampa há anos e até hoje não nasceu chifre nessa tua cabeça!

A roda se desfez na mesma hora. Ele nunca mais veio me encher o saco, quando me encontrava pelas ruas de Pelotas, por mais sozinho que andasse e mais quisesse bater papo com alguém.

MORAL DA HISTÓRIA – Ainda que todo o progresso esteja baseado na paciência, toda a sociedade se revela na intolerância.