Para não ficar em casa cofiando os pelos pubianos da minha gata loira naquela manhã de domingo, fui participar da Maratona Anticorrupção, movimento apartidário que se realizava pelo Eixão Monumental, em Brasília.
Antes que começasse a passeata/caminhada - maratona era demais para tanto cidadão de bem cívico, tão mal de forma física - um político teve a ousadia de se imiscuir no rol das pessoas. Foi alijado aos gritos e resmungos de "Fora, Agnelo! Vai te juntar com a tua turma".
Iniciada a caminhada-correria, fixei-me na performance de um cadeirante. Jovem, forte, espadaúdo, ele chegou à frente de pelo menos metade dos corredores convencionais.
O cadeirante foi para o pódio imaginário especial. A maioria dos participantes foi para o pronto-atendimento médico montado à margem da pista pelos organizadores da maratona de calças-curtas e largos sonhos de democracia.
Esperei que o atleta paraplégico recuperasse o fôlego e fui falar com ele. Conversa daqui, conversa dali fiquei sabendo que se tratava de um ex-policial "ferido no estrito cumprimento do dever". Ele foi serenamente didático ao me contar o incidente:
- Levei dois tiros nas costas durante um assalto ao ônibus que me levava pra casa.
- Você enfrentou os assaltantes?
- Negativo. Eles eram quatro. Manjaram que eu era "tira" e me executaram.
- Eles foram presos?
- Positivo, os quatro.
- Continuam presos?
- Negativo. Os meliantes morreram.
- Morreram? Simples, assim. Morreram?
- Positivo, morreram de tiro. Os malfeitores intentaram fugar do cativeiro...
- Uma fuga em massa?
- Negativo. A cada semana um deles encontrava a porta da sua cela aberta.
MORAL DA HISTÓRIA - Entre bandidos e mocinhos, vingança também é um prato que se come frio. Ou, o corporativismo continua sendo a mais forte e eficiente forma da sociedade fazer justiça.