Poesia é coisa que a gente pode, muito bem, passar sem ela. Não é necessária ao consumo. Não é uma lei a que estejamos submissos, ainda que não sejamos Lula; não é festa política, nem o pão de cada dia.
Entre o sublime e o simplório, a poesia é quase como uma estrela - troço que é um mundo, mas parece um brilhante. A poesia nasce daquele que sente e eama uma grande verdade e depois a canta. É coisa de poetas.
Como não tenho essa grande verdade comigo, o poeta Juliné da Costa Siqueira - meu velho pai que depois de mil, deixou muito mais de mil poemas por editar - bem que poderia, lá do lado das nossas estrelas, me dar o grande prazer de perdoar esses meus versos.
Vida, Prosa e Poesia
Se consegue enganar a luz tão docemente,
Por que a morte ao ânimo intimida?
Se pode enganar as trevas e enganar a gente,
Por que não pode enganar a própria vida?
E o que é a vida senão apenas uma ilusão?
Uma sombra, uma estrada, um luar tristonho.
Para vocês, talvez, o pulsar de um coração;
Para mim, no entanto, nada mais que um sonho.
É o que é um sonho? Um fogo apagado;
Um fogo que ressurge de si mesmo, incandescido.
É a verdade de um certo universo inesperado,
É o mistério e a mentira de tudo quanto é conhecido.
Quando soube que Joubert dizia que "Deus não quis entregar aos homens toda a verdade, então lhes concedeu a poesia"... O insensível Garanhão de Pelotas, leu meus versos, deu de ombros e saiu à cata de mais uma de suas aventuras, não sem antes travestir-se de crítico cultural da garbosa Princesa do Sul: - Fazer poesia é forçar a prosa.
E, como todo crítico de letras e artes, assumiu ares de quem sabia o que estava dizendo sobre aquilo que não sabia fazer. De qualquer maneira, desses versos em diante, me dediquei muito mais à prática dos Hai-Kais.