1 de abr. de 2010

HAI-KAI, PROSA & ESPARRELA

Descobri, lendo Millôr Fernandes, que o Hai-Kai - que eu sempre escrevi assim e que, no Brasil se escreve Hai-Cai - na verdade é Haiku lá no Japão. Haja paciência, posto que haiku abunda nesse país.

Grafia por grafia, fiquei com o hai-kai que mais gosto, ainda que nada tenha contra Haiku, nem aqui, nem na Conchinchina. É um diminuto poema japonês de 17 sílabas, com três versos: dois com cinco sílabas e o do meio, com sete – como ensina o pocket “Millôr Hai-Kais” que ganhei do jornalista Carlos Eduardo Behrensdorf.

A ironia deve ser o seu traço forte. Aí, me deu vontade de destrinchar os hai-hais em prosa. E me diverti fazendo isso. Divirta-se, você também, nesta edição em ordem alfabética e estapafúrdia de alguns Hai-Kais prosas. Kaia nessa esparrela, kaia.

A chorumela começa hoje e será atualizada aqui no blog de forma gradual e irrestrita; dia a dia, semana por semana; quem sabe anos a fio... É uma seção permanente aqui deste galante blog
 "O Garanhão de Pelotas".

A

Abalos
Fujo de sismos, / Mas sou cheio de altos / E de abismos.

Adultério
De calça na mão / Diante de marido... / Não há salvação.

Ano Novo
01. É Ano Novo / Você canta de galo / Mas bota ovo
02. Muda o ano: / Eles vão bem e você... / Vai pelo cano.

PROSA
Adultério
Nunca a traição das mulheres me ensinou coisa alguma sobre elas. As melhores lições foram as traições que cometi. Ainda assim, não passo de um analfabeto repetente.
Abalos
Nada me deixa mais abalado do que me lembrar dos felizes anos de pobreza. (À moda Dante Alighieri)


ESPARRELA

A ADÚLTERA

Maciel, viajante bom de venda, nunca foi o que se pode chamar de um marido exemplar. Viajava muito, corria estrada, andava pelo Brasil afora. Voltava pra casa quando lhe dava na telha. Também não era nenhum erudito. Tinha até certa dificuldade para entender as coisas de imediato. Faltava-lhe, além da notadíssima ausência física, a chamada presença de espírito em algumas ocasiões.


Certa noite, chega de viagem. Sem mais nem menos. Sem qualquer aviso. Sem ruído de porta, inclusive. Tinha dito que chegaria amanhã e chegou hoje. Entra no quarto e surpreende sua mulher com um homem na cama. Ambos nus e satisfeitos. Maciel solta, com estrépito, a mala no chão e mostra toda a sua indignação:

- O que é que vocês estão fazendo aí??? – grita com energia.

Jurema – a Traidora, mais que depressa, sem perder a fleuma e sem dar bola para o marido, fala pro amante:
- Viu, só? Eu não lhe disse que ele é burro?!?

Essa quem me contou, foi o próprio Garanhão flagrado na libidinagem. Tomando para seu currículo de aventuras uma velha e conhecida piada, diz ele que se recusou a saltar pela janela do terceiro andar, mas teve que sair às pressas pela escada, trajando apenas uma cueca, recheada com outros valores tão deslavados quanto os dólares que consagraram o assessor parlamentar do irmão de Zé Genoíno.