Corria o imprevisível ano de 1965 - ou seria 1966?... O Garanhão de Pelotas era repórter recente da sucursal pelotense da novinha Zero Hora que engolira em folha a Última Hora de Samuel Weyner no Rio Grande do Sul. Pauta para aquela sexta-feira: entrevista com o presidente da Associação Comercial, Carlos Alberto Vianna. Matéria: Que bobagem era aquela de abrir um canal direto pela orla de Mostardas ligando a cidade de Rio Grande a Porto Alegre? Queriam acabar com o corredor de escoamento da produção gaúcha que passava por Pelotas?
O Garanhão foi à luta. Mas nem tanto. Passou a tarde no Café Aquário, falando de tudo um pouco, futebol e uns barzinmhos muito loucos que andam, surgindo pela cidade. Hora de envair matéria para a matriz, na capital, chegou de mãos abanando na redação ali no segundo do edifício Princesa do Sul.
Isaías Evódio de Oliveira, o chefe da sucursal, quis saber da entrevista:
- E aí, tudo bem?
- Deus zebra. O presidente não apareceu na Associação... E foi se preparando para encerrar o expediente. Aí o Isaías Evódio pulou:
- Olha, se todo o repórter da Zero Hora chegar na redação com essa explicação, amanhã o jornal sai em branco. Volta lá e me traz a entrevista até às 19 horas.
E assim, o Garanhão de Pelotas, aprendeu a sua primeira grande lição de jornalismo prático. Foi e cumpriu a pauta. No domingo, rendeu chamada de capa e duas páginas centrais.
Na segunda-feira, nada de excepcional. Nada, realmente, que desse bom fruto. O Garanhão não esperou pela pauta. Resolveu ganhar mais duas páginas e pelo menos uma boa manchete. Lá por volta de quatro horas da tarde, telefonou para a Estação Ferroviária. Falou com um funcionário, seu cupincha que jogava bola com ele pelos campos da Várzea.
- Ei, Zé Maria, o que é vocês estão fazendo aí. O pessoal de Pedro Osório está em greve. Qurem aumento salarial...
- Hein, não tô sabendo de nada. Mas, já vou tomar providência...
O Garanhão desligou e imediatamente - naquele tempo duas pessoas não telefonavam ao mesmo tempo para o mesmo lugar - telefonou para a Estação do Cerrito. Pediu pra falar com Chicão, zagueiro da 1ª Divisão de Amadores.
- E aí, Chicão... O que é que vocês tão fazendo aí? O pessoal de Pelotas tá em greve. Querem melhores salários...
- O quê?!? Vou telefonar pra eles agora mesmo. Brigadão. Tchau.
Em seguida, o Garanhão ligou para a Chefia do Interior da Zero Hora em Porto Alegre e passou a matéria - por telefone é claro, em virtude da urgência da notícia. Na terça-feira, a Zero Hora dava o furo da semana:
Ferroviários em Greve. Pedem melhores salários!
Uma semana depois, os trabalhadores da RFFSA ganhavam o aumento que nem sabiam muito bem por quê estavam recebendo.
RODAPÉ - Dizem que o repórter Garanhão de Pelotas nessa história entrou como Pilatos no Credo. Seria na verdade um tal de Sérgio, foca atrevido que, bem mais tarde virou chefe da Sucursal até que ela foi fechada pela política da empresa. Eu apelo para o habeas corpus e prefiro ficar calado.