2 de abr. de 2010

A PORTEIRA DA MINHA PÁTRIA

Imagine aí o mapa do Rio Grande do Sul. Pronto! É um enorme garrafão com o gargalo emborcado para o oceano Atlântico. Tente agora destampá-lo com a mão. Aí... Isso mesmo, você acaba de empurrar a rolha para dentro.

Esqueça o garrafão. Pense no vinho. Sirva-se... Ahh, essa rolha enjoada. Ficou no meio do caminho. Faz com que o líquido chegue saltitante às taças que você quer usar num brinde à liberdade, à alegria, às coisas boas da vida, ao jeito requintado de ir levando...

Esqueça o vinho; esqueça o garrafão. Esqueça essa coisa aí de ir levando. Pense no mapa do Rio Grande do Sul. Isso, é justamente ali que, entre o estado gaúcho e o Atlântico, está aquela rolha chamada Pelotas. Uma cidade atravessada na garganta do Rio Grande do Sul.

É por ali que, obrigatoriamente, tem que passar o conteúdo que escorre para o mar. E a recíproca é verdadeira, tudo que é do mar não enjoa. Para banhar o Brasil, se vier do mar, só passa se Pelotas desarrolhar.

Pena que essa localização tenha sido olhada até hoje pelos próprios filhos que a terra pariu, apenas como um acidente geográfico. Ledo engano: é geopolítico.

Se asssim a tivessem encarado, desde os tempos das Charqueadas, os pelotenses seriam os inventores do primeiro grande pedágio nacional. Teriam construído ali, onde fizeram a Ponte do Retiro, uma porteira que seria aberta para quem quisesse passar. Desde que... pagassem e não bufassem.

E, então, melhor do que ninguém e com toda razão, os pelotenses teriam sido os primeiros a usar e abusar da escrachada expressão popular: - Pagando bem, que mal tem?!?

Antes e acima de tudo, Pelotas seria hoje o próspero Distrito Federal de um país chamado Brasil da Província de São Pedro. Melhor, mil vezes, um país de São Pedro do que um Brasil Da Silva desses que a gente tem que engolir. Isso só não se deu porque a têmpera citadina não é separatista. Ainda bem. É assim que eu gosto dela. Pelotas continua a mesma de sempre; só um pouco mais velha.

É assim mesmo, do jeito que ela é e que sempre foi, que eu a vejo e sempre vi como "uma pátria pequena que eu tenho no Sul".