29 de jul. de 2011

O PISIQUIATRA E DONA DOLORES SIERRA MAESTRA

E lá estava no divã o Dr. Jekill Viktório Freud Frankl - alter ego do Garanhão de Pelotas em dias que ele assume a sua porção pisquiatra de dar com pedra, quando a mais loira das suas três secretárias executáveis intercomunicou-se:

- Dr. Viktório, sua paciente, dona Dolores, já está na sala de espera.
- Daqui a cinco minutos, pode encaminhá-la para o estúdio de consultas.

O cérebro do nobre psiquiatra entrou em ebulição. Parecia que sua cabeça ruminava como se fosse a Patagônia. Sua cliente, Brujita de las Dolores Sierra Maestra, era uma legítima Tierra del Fuego, gélida e quente a um só tempo, perigosa como ela só.

O Garanhão precisava concentrar-se, assumir logo a personalidade do Dr Jekill que era também Viktório, um pouco Freud e, não raro, Dr. Frankl também. Dolores Sierra Maestra era um caso raro de multiplicidade sobre-humana, super humana, sobrenatural em termos de fetiches e magias no terreno das instabilidades emocionais.

Em quatro minutos e meio, dominou a mente e os nervos e dirigu-se ao estúdio. Dolores Sierra Maestra lá estava, recostada languida e linda no vasto, confortável divã de couro de bezerro alemão, que acabava sempre revestido por um aconchegante e convidativo pelego.

Mantidas as devidas e adequadas distâncias entre médico e paciente, o Garanhão de Pelotas, usando a entonação britânica da voz do Dr. Jekill Viktório Freud Frankl, iniciou a sessão que não tinha hora para acabar de relaxar. Nem de gozar.

- Fale o que lhe vem à cabeça...
- Parafilia, Sadismo, Bondage, Fetichismo, Voyeurismo, Exibicionismo, Podolatria... Ei, doutor, onde foi que você comprou esses sapatos? Eles são liiiindos!
- Em Frankfurt, dona Dolores. Em Frank.... Ora, componha-se dona Dolores. Continue, por favor...
- Tá bem, doutor, mas seus pés... Tá bem, tá bem... Coprofagia, incesto, Coprofilia, Necrofilia... Nããããão! Necrofilia foi mal, doutor. Ato falho, ato falho!
- Prossiga, dona Dolores. Só palavras secas, curtas...
- Urofilia, Estupro, Assédio, dupla penetração... Ai, doutor dupla penetração é grande, né não? Tire fora, dupla penetração não vale. Falei demais.
- Siga, dona Dolores Sierra, siga.
- Pois então... Masoquismo! Masoquismo! Masoquismo, doutor!

E, sem conter-se mais, atirou-se sobre o Garanhão de Pelotas que, de jaleco e tudo, estava recostado no seu divã, também de couro e já revestido por igual ao outro, com um enorme e aconchegante pelego. Beijaram-se com sofreguidão.

Ele, do alto de sua frieza profissional, deu uma volta completa no corpo, deixando Dolores Sierra Maestra sob seu corpo. Levantou-se, estendeu a mão à escrivaninha ao lado e de lá muniu-se com um látego, um chicote, um rebenque, o popular relho de dar surras em gaúchos de todos os sexos, daqueles mais atrevidos.

Desancou relhaços de paixão em Dolores Sierra Maestra que tinha as costas largas e não dava um grito; só gemidos de gata mais braba do que manhosa, e miava de tal forma que seu maullidos só não partiam o coração do médico-monstro porque lhe provocavam um tesão que não sabia explicar e que, muito menos, o deixavam parar com aquele pequeno flagelo fingido de amor compartilhado.

De relhaço em relhaço, rasgou as vestes de Dolores e jogando fora as próprias roupas, invadiu-a na frente, mas por trás como se só existisse aquele espaço livre no universo do seu corpo.

Comeu-a com todo o seu rigor e ela, devorou-o com toda a sua falta de pudor. Bom tempo depois, já sem apetite, os dois saíram cambaleantes do pelego ensuarado e se higienizaram na Jacuzzi do gabinete ao lado.

Ele foi ao armário e renovou sua vestimenta de psiquiatra compenetrado e conscio de seus deveres profissionais; ela buscou no vestiário feminino um conjunto exatamente igual ao que vestia quando chegou à sala de espera de mais uma sessão de terapia intensiva.

Recompostos, os dois foram para a ante-sala do médico que, aos poucos foi assumindo os jeitos e trejeitos do Garanhão de Pelotas. Dolores Sierra Maestra, maquiada outra vez e bonita como sempre, aprumou-se para sair. Antes que se levantasse para ir embora, o Garanhão recostou-se outra vez, já no seu terceiro divã e lhe dirigiu uma última ordem:

- Diga agora o que lhe vem à cabeça.
- Eu te amo, Garanhão.

Despediram-se num adeus que duraria só até o amanhecer do outro dia. Ele se recolheu à solidão do seu consultório. Ela passou, linda de morrer, pela secretária loira. E como sempre, não pagou a consulta. Afinal, ela era sócia nas clínicas do doutor. De todas as clínicas e negócios do Garanhão.

MORAL DA HISTÓRIA - De médico e de louco, todos nós temos um pouco. Ou... é delicioso estar louco só por pouco tempo e dar por certo tudo quanto é louco o bastante para ser bom.