26 de jul. de 2011

O GARANHÃO ADOLESCENTE NO EGITO

Sabe-se lá como e quando - que faz muito tempo, faz - o Garanhão de Pelotas  foi parar no Egito. Era adolescente ainda. Suas mãos eram maiores do que seus bolsos. Gostou tanto daquelas paragens que resolveu ficar um bom tempo mais lá pelo Cairo. Queria exercitar seu jeito árabe de ser. A capital da República era um verdadeiro harém a céu aberto.  Para ficar, vendeu a passagem de volta da Egipt Air e garantiu uma vaga de guia num dos museus da cidade.

Pouca prática, mas expedito comme d'habitude, não se apertava no fino trato que dispensava aos turistas. No fundo, no fundo sabia que os visitantes, por mais que soubessem da história daquele mundo fascinante, sabiam ainda menos, muito menos do que ele.

Não se apertava em nada. Se os turistas queriam saber se ele sabia falar francês, ele perguntava se eles não sabiam falar espanhol, inglês, árabe, ou coisa que valha. Usava um lenço para cada choro. Quanto à história antiga, então, era um mestre.

Certo dia, uma turista lisboeta quis saber do simpático e atencioso guia que figuras eram aquelas que ali estavam em seus esquifes, uma ao lado da outra:

- Que múmia é esta?
- Esta é a múmia de Cleópatra, minha senhora.
- E aquela menorzinha ali?
- Ah sim, aquela é a mesma Cleóptara, quando era criança.

E assim, saltitante e esperto, conseguiu manter-se no Cairo por uns bons dois ou três anos de sua juventude transviada. Dali foi para o Marrocos, mas isso já outra história que só quem pode contar é o pessoal da Legião Estrangeira.

MORAL DA HISTÓRIA - Para o Garanhão de Pelotas, a História sempre foi, na verdade, o reino da mentira.