6 de jul. de 2011

NADA FICOU PARA DEPOIS

E então, depois de comer mosca assim como se fosse um reles plebeu, o Garanhão de Pelotas  deixou-se incorporar pelo nobre falido que há dentro dele e, de repente, não mais que de repente, percebeu-se apaixonado. Amadurecida e quase que tardiamente apaixonado.

Soube, o imbecil, que estava caído de amores - daqueles amores de fazer estrogonofes para a bem-amada e bebericar vinhos mais merlôs que cabernês - por alguém que já o espreitava e queria, de tudo desse mundo, trocar pequenas emoções por um grande e interminável sonho possível de ser sonhado; mais que isso, de ser vivido.

Soube, o basbaque de tantas e tantas aventuras nessa vida, que uma doce e grande ventura saía da moita para trilhar caminhos por dias de vinhos e rosas, dias e momentos de coisinhas bobas que significam tudo. E deu-se conta de que a vida só é grande quando a felicidade é imensa por que cabe dentro de pequenos instantes, momento a momento.

Era quase muito pra lá de depois. Mas - sujeito de potra nessa vida - salvou-se pelo gongo, pois nunca é tarde demais para amar. O ecoar do gongo, o tilintar dos sinos, vinha em ondas pela vida redescoberta, sem cobertores curtos, em pequenas dose de risos, pensamentos, afinidades, receios do que desconheciam um do outro... Melhor seria se desconhecessem tudo, um sobre o outro.

O clima tinha um certo ar de temores tolos; o frio que corria descia gostoso pela espinha. Encontros quase furtivos foram juntando os desencontros. E depois, de cafezinhos culturais, comidinhas alhures em esquinas mal-escolhidas e restaurantes sem burburinho, saíram de um risoto a dois, muito às claras e regados a goles de ternura dietética e foram para o aconchego de suas ilusões.

Saídos de dentro de si mesmos, o Garanhão de Pelotas  e sua musa de olhos distantes e lábios deliciosos, se encaminharam, cúmplices, para o refúgio da dona dos anéis que enfeitam a felicidade. Provaram, então, o mel do grande encontro que se esparramou pelo tapete e escorreu para o recôndito de um quarto de cama sem virgindade e enlouquecidamente convidativa.

E assim, tudo à meia luz, crepúsculo interior, eles se desnudaram de seus receios e, com muita doçura, muito carinho antigo devassado... brocharam os dois. E de tal forma ambos se identificaram tão felizes nesse orgasmo de razão e coração que nada, nunca mais, ficou para depois.

MORAL DA HISTÓRIA - Para o coração é uma doce loucura ser o dono da razão.