5 de ago. de 2011

A SURDEZ DO RICAÇO ESPERTO

Te mete! Ninguém dava nada por ele, quando - com um diploma embaixo do braço - o Garanhão de Pelotas  virou otorrinolaringologista. Virou otorrino mais por se deliciar ao ver seus pacientes não pronunciarem direito o nome completo de sua especilização do que por vocação e profissão.

Montou uma clínica no centro da metropole da Zona Sul - paraíso de compras e vendas dos moradores de pelo menos 20 cidades ali das redondezas. Só atendia gente rica. É que rico também tem dor de ouvido, de cabeça e gargantilha.

Naquele tarde, sua agenda de consultas reservava para a última hora do expediente - trinta minutos antes do happy hour - uma sessão de revisão geral nos ouvidos de Dom Pérrignon XVI, já com 72 anos de idade, vetusto descedente do monge aquele que "sorvia estrelas".

Era um produtor de vinho da colônia, concorrente direto do Emílio Ribas, senhor de um vinhedo que não dava bola, nem bolinha para Champagne - uma região francesa que emprestava o nome para uma bebida bem parecida com o vinho em garrafão colonial.

Pois, por pura sorte, Dom Pérrignon XVI ficou bilionário. mais até do que esses consultores republicanos que fazem negócios de botar dinheiro da vida pública na privada. Com seus 72 anos bem vividos, estava casado já há seis meses com uma jovem de 20 anos, perdidamente apaixonada por ele.

No horário marcado, em pontinho, o paciente chegou, para a revisão dos aparelhos auriculares que lhe enganavam a surdez. O galante otorrino, atendeu-o com a gentileza que sempre dispensava aos portadores de polpudos talões de cheque. Todo sorrisos e afabilidades. Assim que o ancião entrou, o médico foi puxando conversa:

- E aí Dom Pérrignon, o senhor vai bem? E sua jovem esposa, como vai?
- Tudo bem, tudo bem...
- E o aparelho auricular fez efeito?
- Fez. Uma beleza!
- E sua esposa já sabe disso?
- Quê nada...
- Você não disse nada, não fez nada?
- Fiz. Já mandei alterar o testamento.

O Garanhão  fingiu-se surpreso. E logo aproximando-se do ouvido do velhote ricaço, disse-lhe em tom de confidência:

- Sabe, Dom Perrignon, eu nunca entendi como o senhor conquistou o coração daquela menina...
- Barbada, meu bom doutor, eu menti pra ela que tinha 87 anos.

Pronto. Desfeitos todos os mistérios. A revisão nos aparelhos foi minuciosa e Dom Pérrignon saiu dali escutando melhor do que nunca.

MORAL DA HISTÓRIA - Só cai no conto do vigário aquele que pretende passar o vigário para trás.