Faz tempo isso, mas como sempre, o parque de estacionamento estava lotado. O Garanhão de Pelotas resolveu usar suas credenciais de lobista oficial de negócios relacionados com coalizão pela governabilidade e dirigiu-se ao estacionamento interno do ministério.
Não era mais do que três e meia da tarde. O nosso grande executivo, hábil piloto de um silencioso Honda Civic Hybrid mal encaixara a máquina vermelho-sanguessuga na vaga, quando viu que algo de estranho acontecia naquele lugar escuro e desértico do órgão público.
Estrategicamente, escondeu-se atrás da primeira coluna da garagem próxima ao veículo que lhe parecia familiar e, em silêncio, conseguiu observar o estranho acontecimento. Viu tudo. Era um assalto-relâmpago. Escutou direitinho:
- Mãos ao alto! Passe todo o seu dinheiro!
- Você sabe a quem está assaltando?
- Não.
- Eu sou o ministro dos Transportes.
- Então, passe todo o meu dinheiro!
O Garanhão, trancando o riso, deixou que aflorasse o ímpeto do grande herói que há dentro dele. Saltou de trás da coluna e gritou alguma coisa assim como "você está preso!". Foi o que bastou.
O bandido saiu em desabalada carreira deixando para trás a idéia do assalto. O ministro não sabia como agradecer ao seu providencial salvador. Isso, no entanto, não foi problema. Graças àquele ato de bravura, os tempos que se seguiram foram todos de vacas gordas. E muito bons e rentáveis, enquanto o ministro foi ministro.
Claro, o Garanhão religiosamente, pagava os tradicionais 10% do que recebia por seus prestimosos serviços como mais um dos grandes consultores da Esplanada dos Ministérios, para o assaltante frustrado que, ao primeiro grito de "teje preso!" fugira desabaladamente pela rampa do estacionamento oficial.
MORAL DA HISTÓRIA - Ambos estão perdoados por 100 anos.