20 de out. de 2011

NÃO FUMO!...

Quem quiser que acredite, mas este seu Garanhão de Pelotas aqui, um dia, foi adolescente. E a minha turma era da pá virada. Eramos todos mais ou menos assim como um "pobre samba meu": sofríamos a influência do jazz. Cada um queria ser mais parecido com o James Dean. Parecido com ele, é claro, antes que se esbugalhasse com seu Porsche 550 naquele acidente contra um Ford Custom Tudor 1950 quando ia para uma corrida em Salina.

Imagine se alguém queria se parecer com Anselmo Duarte?! Não havia uma moçoila sequer que preferisse ser Eliana, ao invés de Natalie Wood.

Então, como era it da moda, todo mundo queria ser mais homem, mais rebelde sem causa, mais transviado, mais duro e dez, mais machoman, ainda que fosse nos mínimos detalhes, nos menores lances.

Era bosseiro tomar leite de madrugada no gargalo da garrafa; era tranchan usar cabelo abotoado atrás e foi aí, bem nessa época, que as camisetas Hering viraram coqueluche. A rapaziada passou a levantar ferro na moita, tinha que ficar sarado para ser durão. Era bonito fumar. Porra, o James Dean fumava.!

E foi numa daquelas tardes de matinés que a patota se reuniu, para saber quem iria azarar depois de mais uma sessão de cinema. Fernandinho, o Raposa, era um dos poucos da turma que não fumava. Não gostava. Também não dizia nada; fazia de tudo para que ninguém notasse que ele era um do time que não pita, nem na cola da cabrita. No fundo, no fundo, se sentia meio envergonhado por essa falha.

Pois, naquela tarde de domingo, estávamos em bloco defronte à entrada do cinema. Um garoto novo no grupo, com cara de Sal Míneo, tirou um maço de Colúmbia com filtro do bolso da jaqueta e, querendo agradar e criar ambiente, ofereceu um cigarro a Fernandinho Raposa:

- Você quer fumar?
- Não, brigado. Não Fumo... - E, fechando o cenho pra ficar com cara de durão, completou com uma certa vermelhidão na cara: - Não fumo... Só bebo e trepo!

MORAL DA HISTÓRIA - Quem não se encaixa nos modismos da sua turma, acaba vítima de seu próprio jeito de ser e parecer. Nem precisa ser, fundamental é parecer.