E então, de repente, não mais que de repente, a mídia - sempre a mídia - descobre que o patrimônio de Agnelo Queiroz, perfeito substituto de Zé Arruda no governo do Distrito Federal, subiu 413% em quatro anos. De R$ 224.350 declarados à Receita em 2006 seus ganhos foram para R$ 1.150.322 em 2010.
Isso só pode ser intriga da oposição. Vai ver, ele apenas se esqueceu de contar ao Leão do governo que aprendeu com o nanico João Alves, de triste memória, a acertar uma vez por ano nas Loterias da Caixa. Ainda tem muito sorteio pela frente.
Mas esta patacoada só vem parar aqui, porque demonstra que a vida é uma piada pronta. E como o Garanhão de Pelotas perde o amigo mas não perde a piada, eu tenho frouxos de riso quando vejo na política casos tão antigos e hilários quanto as mais velhas conversas moles para boi dormir.
Naquelas priscas eras eu era um colono matuto lá do interior das pradarias do Rio Grande. Tinha coisa de vinte e poucos anos e trabalhava com meus pais e minha penca de irmãos na nossa pequena lavoura de arroz, ali pelas bordas do Taím.
Trabalho duro, de sol a sol, a semana inteira. Menos sábado e domingo, folga que a gente já começava a curtir nas noites de sextas-feiras pelos bolichos da campanha.
Eu era bem comportado. Bebia e comia menos do que namorava. Preferia carne tenra, in natura. Pois então, eu tinha uma namoradinha, bonita pra burro. Uma colonazinha que nem eu. E a gente namorava na sala, sentadinhos no sofá de palhinha colonial.
Os avanços já iam bem adiantados entre nós. A gente já se bolinava há mais de seis meses. Sempre ali na sala e, na hora da saída, no portão, onde as suas bochechas ficavam mais vermelhas e seus recôndidos mais bem humorados. Humor aquoso, é claro. Minhas glandulas inferiores ficavam a ponto de estourar.
Naquela sexta, coisa de nove horas da noite, ela tirava meu saltitante artefato de prazer para fora da braguilha quando, de inopino e impertinente, entra na sala o bagual inconveniente e inxerido do seu pai. Um gauchão de faca na bota, bigodes que parecim um rebenque horizontal sobre as ventas fumegantes...
Nem precisava ser daquele tamanho. Bastava aquela carantonha para matar qualquer um de susto. Vi que ele vira tudo. Seus olhos até me pareceram meio gulosos com relação à minha intimidade exposta. Coisa de gaúcho, sei lá. Mas, a bem da verdade, o que senti mesmo no seu emblante foi o ar de decepção diante da quebra da confiança que ele depositara em nós.
Nãolhe dei tempo algum. Dei curso, isto sim, à única desculpa que me veio à cabeça.
Levantei-me de repente e, no meu pulo do gato, atravessando a sala rumo à patente lá fora, com o instrumento viril e erecto na mão, me dirigi ao sogrão mal encarado:
- Bueno, vou dar uma mijadinha...
E diante de sua estupefação, com um sorriso amarelo aproveitei para alongar a constrangedora e ocasional conversa:
- E talvez inté faça um cocozinho.
O que a desculpa esfarrapada e imoral produziu naquele ambiente, nem quero lembrar. O que importa agora é que o pulo do gato cabe hoje como uma luva na mão de Agnelo Queiroz, flagrado numa brutal quebra da confiança dos seus eleitores.
O sucessor de Arruda dos Panetones é bem capaz de, a exemplo dos R$ 5 mil que lhe foram devolvidos pelo lobista laboratorial, pode muito bem imitar a cena deste seu Garanhão aqui e sair de fininho abandonando o governo, como eu abandonei pra sempre a namoradinha bonita pra burro.
Só falta agora Agnelo se levantar da cadeira no gabinete do governo e dar o pulo do gato na direção dos seus eleitores:
- Bueno, vou devolver os premios das loterias pra Caixa... E talvez inté lhes empreste algum do que tá sobrando.
MORAL DA HISTÓRIA - Nem sempre as necessidades fisiológicas são satisfeitas com fezes e urina. Podem, no entanto e invariavelmente, ser feitas de imoralidade e sem-vergonhice.