Não foi o Brasil que inventou a corrupção. O Brasil apenas aperfeiçoou a prática. O Garanhão de Pelotas estava num garden party de 2 mil talheres promovido por um conhecido lobista de Brasília. No meio da festa, na pérgula da enorme piscina, escutou na mesa ao lado, um dos convidados já quatro ou cinco uísques acima do nível do lago Paranoá, perguntar para o dono da enorme e fantástica mansão.
- Que ninguém nos ouça, mas como é que você conseguiu tudo isso? Até heliporto você tem aqui...
- Cá pra nós - sussurrou o lobista milionário - você conhece o aeroporto?
- Sim, claro. Está em obras...
- Pois é, o orçamento é de R$ 600 milhões.
- Razoável...
- Mas, a obra vai custar mesmo R$ 420 milhões...
O silêncio que se seguiu era apenas a comprovação de que já tinham começado a falar a mesma língua. O dono da mansão, quis também saber um pouco da vida do conviva, um engenheiro trilhardário, de sucesso já beirando a trajetória Oscar Niemeyer, o rei dos projetos sem licitação:
- E você, como é que conseguiu um patrimônio que tem pelo menos 3 casas iguais a esta e cinco condomínios residenciais no coração de Brasília?
- É simples. Venha comigo até o mezanino...
Foram. De lá, à beira de seus uísques, vislumbraram a Capital Federal por inteiro. Uma vista deslumbrante...
- Você está vendo aquela estrada ali, que liga o Palácio do Planalto ao Lago Paranoá?
- Não.
- Pois foi construída por mim.
RODAPÉ - A história foi repassada como piada ao Garanhão de Pelotas, pelo amigo, conterrâneo e seu médico bissexto Uílsom Moreira, radicado em Brasília há mais de 30 anos. A narração foi feita na mesa 5 do mezanino da Churrascaria Porcão, no Píer 21, setor Sul do Lago Paranoá, durante o tradicional happy hour das noites de quinta-feira.