28 de fev. de 2011

O Novo Reitor

Repórter de rádio feito a martelo, Coutinho de Assis procurava prestar atenção em tudo que acontecia a sua volta. Virou um chato de galocha. Não podia ver uma roda de amigos que se chegava pra perto, querendo agradar. E furungar notícias.

O Garanhão de Pelotas, quando estava na cidade, tinha encontro marcado com os jornalistas de algumas emissoras e dos dois jornais citadinos, à beira do balcão do Cruz de Malta - bar e restaurante com as melhores lascas de porco rodeadas de caipirinha e outros bebericos de ocasião.

Era um sábado, perto de meio-dia. As biritas e os beliscões já tinham começado, quando o foca se aprochegou. Sentindo o gelo do pessoal, afastou-se de leve, pediu um cafezinho e uma empada e ficou por ali mordiscando uma e bebendo o outro, de olhos e ouvidos atentos.

Behrensdorf, macaco velho, começou com a maldade. Assim como quem não quer nada, voltou-se para Edgard Laurent, então diretor da TV Tuiuti, e perguntou num tom alto o suficiente para ser escutado pelo furungador:

- E aí, Laurent, vais cobrir a chegada do novo reitor da Universidade Federal?
- Claro, já mandei minha equipe lá pro Aeroporto - respondeu, malandro, ao perceber a jogada.
- A que horas ele chega?
- Daqui a pouco. Vem de Brasília, o pouso do avião está previsto para às 13h.

Henrique Coutinho deu um pulo. Quase engoliu a empadinha de uma só dentada. Apenas babou-se com o café quente. Aconchegou-se à turma de pinguços convictos e, como quem não tinha escutado nada, foi metendo o bedelho:

- Ei, ouvi dizer que vamos ter um novo reitor na cidade...
- É verdade - disse o Garanhão de Pelotas.
- E já se sabe o nome dele?
- Claro! Mas não se pode falar isso em voz alta. Vou dizer só pra você... - Behrensdorf adiantou-se e segredou o nome do novo reitor no ouvido direito do bisbilhoteiro.
- Ah, já ouvi falar nesse cara.

Logo afastou-se. Naquelas priscas eras não havia celular, então a menos de quinze segundos e três metros da roda de amigos, pegou o telefone de parede do bar e ligou para a Rádio Cultura:

- Ei, Marcos bota aí o prefixo do Correspondente Extra. Tenho um furo para dar no ar...
- Furo, do que se trata?
- De educação superior. Da Universidade Federal. É bomba!

O sonoplasta cortou a programação normal, meteu a chamada de notícia no ar e Coutinho de Assis entrou num fôlego só, com toda a bossa e imponência que a informação exigia:

- Boa tarde, amigos. Dentro de exatamente 22 minutos estará pousando no aeroporto da cidade o avião que traz de Brasília o novo reitor da Universidade Federal de Pelotas. Ele vem para o lugar do Doutor Dagoberto Vieira X. de Andrade que pediu aposentadoria. O novo reitor é de outra cidade e muito conhecido nos meios educacionais. Logo daremos mais detalhes. Por enquanto podemos adiantar que o novo reitor se chama Dr. Honóris... Doutor Honóris Causa. 

O boletim foi interrompido. O Grande Bailado Eletrônico de Sábado foi retomado. E só se falava nisso nos bastidores da emissora, dona de enorme sintonia.

Na segunda-feira, o Garanhão de Pelotas, Behrensdorf e Laurent dissuadiram o diretor da rádio de botar o repórter no olho da rua. Assumiram a culpa pela brincadeira e prometeram não fazer nunca mais nada parecido com o perguntão. E não fizeram mesmo. Dali em diante, todas as frias em que o colocavam eram diferentes. Não tinha uma igual, nem parecida.

MORAL DA HISTÓRIA - Do que se diz em sociedade - numa redação de jornal, num balcão de bar, no microfone de uma rádio - o que mais importa é que seja engraçado; o de menos é que seja verdade.