Se existe no mundo alguma coisa mais impertigada, pernóstica e prolixa do que uma reunião de Conselho Universitário, o Garanhão de Pelotas desconhece. É, mais do que um encontro entre as cabeças pensantes do Ensino superior, um confronto de vaidades que mistura os corpos docente e discente.
Pois, naquele tempo, o Garanhão era catedrático de alguma coisa e era conselheiro. E, a reunião começara, como é de bom alvitre nessas ocasiões, com um lauto café da manhã. Logo depois, lida a pauta, o encontro parou para o cofee break - que ninguém ali era de ferro.
Retomados os trabalhos, um circunspecto professor resolveu pensar em voz alta, para que os ínclitos conselheiros todos soubessem que ele estava ali para decidir os destinos da universidade.
Fez pose de intelectual, reclinou-se na cadeira de espaldar alto e, com o olhar perdido pela ampla sala de decisões, empertigou o tom de sua disposição falando para que, além dos meros circunstantes, o chanceler e o reitor também o escutassem:
- Aqui na universidade, precisamos parar para pensar...
Uma advertência absolutamente dispensável, mas com o impacto de um cerebral ponto de partida para qualquer assunto que surgisse a partir dali. O Garanhão de Pelotas não deixou aquilo passar em brancas nuvens. Com afetada solenidade no falar, dirigiu-se em tom filosofal concreto para o posudo Dr. Honóris Causa:
- Pois de minha parte, professor Honóris, acho que ainda somos capazes de fazer as duas coisas...
- Fazer as duas coisas, como assim? - espantou-se o presunçoso conselheiro.
- Ora, caminhar e pensar ao mesmo tempo.
O pedante correu os olhos pela mesa oval das decisões universitárias e percebeu um leve esgar de ironia no canto da boca de cada participante da reunião. O encontro foi, digamos, profícuo. Pelo menos não foi interrompido em momento algum pelo afetado conselheiro.
MORAL DA HISTÓRIA - Há momentos em que é tão natural quanto oportunista a presunção de alguns que, se os outros mostrarem humildade, vai ficar parecendo que não valem grande coisa.