Tinha sempre uma piada, um chiste, um comentário, uma resposta na ponta da língua. Seu temperamento alegre e comunicativo dava margem a pequenas liberdades, rápidos retruques, ágeis brincadeiras inocentes e respeitáveis. E até, não raro, a alguns certos descalabros de linguagem e tratamento.
O Garanhão também cultivava o hábito de àquela hora dar uma saidinha para espichar as pernas, endireitar a coluna e fazer um lanche rápido, coroado com um bom sorvete a título de sobremesa.
Naquele dia, Clarinda exagerara no visual: cabelos ruivos, à la homem; blusa floridíssima de fundo vermelho berrante, calças brancas tipo slack, justas, inacreditáveis, incríveis, extraordinárias que se deixavam desenhar pelas bordas salientes de uma lingerie vermelha com ares de fio-dental. Ninguém no mundo da moda imaginaria outra figura igual, com aquele design, com aquele layout. Um espanto.
Quase uma hora da tarde, o Garanhão saía do restaurante, já comido, quando, nas proximidades da sorveteria deparou, poucos passos à frente, com Clarinda desfilando sua beleza pelas ruas centrais da cidade. Decerto esperava pelo maridão. O Garanhão, não resistiu. Resolveu fazer uma brincadeirinha com a enfeitadíssima colega. Acelerou o passo e deu-lhe um toque no ombro pelas costas, ao tempo em que lhe bafejava pelos arredores da nuca:
- Úúúúú... Mucréia!
A mucréia virou-se mais do que surpresa, assustada. Mais surpreso e assustado ficou o Garanhão... Não era a Clarinda. Por incrível que pudesse parecer, não era a Clarinda. Era uma senhora absolutamente desconhecida. Eles nunca tinham se visto na vida.
Ligeiro, como se fosse Lula diante de um escândalo qualquer do seu saudoso governo, o Garanhão não demonstrou qualquer sinal de rubor armou um sorrisinho amarelo e foi logo dizendo:
- Hi, pensei que era a minha mulher. A minha esposa tem uma roupa igualiznha a esta. Desculpe, por favor, desculpe.
MORAL DA HISTÓRIA - Existem pequenas mentiras que diante da força dos exageros se transformam em grandes e salvadoras verdades, ou... sempre é melhor uma boa desculpa do que nenhuma.