11 de fev. de 2011

Mucréia!!!

Nos tempos das vacas magras, quando o Garanhão de Pelotas  ainda trabalhava como chefe do setor de contas correntes no falecido Banco da Província do Estado do Rio Grande do Sul, Clarinda foi, disparada, a mais extrovertida e gozadora colega de serviço que ele teve na sua tão árdua quanto breve carreira de bancário.

Tinha sempre uma piada, um chiste, um comentário, uma resposta na ponta da língua. Seu temperamento alegre e comunicativo dava margem a pequenas liberdades, rápidos retruques, ágeis brincadeiras inocentes e respeitáveis. E até, não raro, a alguns certos descalabros de linguagem e tratamento.

O Garanhão  também cultivava o hábito de àquela hora dar uma saidinha para espichar as pernas, endireitar a coluna e fazer um lanche rápido, coroado com um bom sorvete a título de sobremesa.

Naquele dia, Clarinda exagerara no visual: cabelos ruivos, à la homem; blusa floridíssima de fundo vermelho berrante, calças brancas tipo slack, justas, inacreditáveis, incríveis, extraordinárias que se deixavam desenhar pelas bordas salientes de uma lingerie vermelha com ares de fio-dental. Ninguém no mundo da moda imaginaria outra figura igual, com aquele design, com aquele layout. Um espanto.

Quase uma hora da tarde, o Garanhão  saía do restaurante, já comido, quando, nas proximidades da sorveteria deparou, poucos passos à frente, com Clarinda desfilando sua beleza pelas ruas centrais da cidade. Decerto esperava pelo maridão. O Garanhão, não resistiu. Resolveu fazer uma brincadeirinha com a enfeitadíssima colega. Acelerou o passo e deu-lhe um toque no ombro pelas costas, ao tempo em que lhe bafejava pelos arredores da nuca:

- Úúúúú... Mucréia!

A mucréia virou-se mais do que surpresa, assustada. Mais surpreso e assustado ficou o Garanhão... Não era a Clarinda. Por incrível que pudesse parecer, não era a Clarinda. Era uma senhora absolutamente desconhecida. Eles nunca tinham se visto na vida.

Ligeiro, como se fosse Lula diante de um escândalo qualquer do seu saudoso governo, o Garanhão  não demonstrou qualquer sinal de rubor armou um sorrisinho amarelo e foi logo dizendo:

- Hi, pensei que era a minha mulher. A minha esposa tem uma roupa igualiznha a esta. Desculpe, por favor, desculpe.

MORAL DA HISTÓRIA - Existem pequenas mentiras que diante da força dos exageros se transformam em grandes e salvadoras verdades, ou... sempre é melhor uma boa desculpa do que nenhuma.