Gostava de brincar. Dividia rimas com Ápio Antunes; apartes imaginários com Vieira Monteiro; convergentes discussões com o destemido Aristimundo Mendes de Oliveira.
Brigava com a desorganizada polícia; com os organizados políticos; com a lerdeza do Judiciário. Defendia fracos e oprimidos. Divertia-se com os toques mágicos de sua bengala dos últimos anos. Não levava desaforo pra casa, mas matava no peito os chistes que lhe eram devolvidos.
Dentre as manias que tinha, uma era desconversar a idade. Levou uma década para sair dos 38 anos e vinte anos para sair dos 66.
Numa incerta data, recebia em casa alguns velhos amigos e outros tantos conhecidos, justamente para festejar mais uma data de nascimento. Falava-se de tudo, tocava-se violão, cantava-se.
Só não se tocava em idade.
Eis que, desavisado, um dos visitantes menos afeito à ojeriza de meu pai pelo número preciso de aniversários, dirige-lhe em meio aos convivas, senhoras e senhores, a pergunta letal:
- Juliné, meu amigo, estás ótimo... Quantos anos tens?
- Um só, está limpo e não é da tua conta!
Serviu-lhe outro drinque, pediu música mais alta e o sarau prosseguiu. Ninguém tocou no assunto. Ele parecia comemorar 66.
CRÉDITO - (Diário Popular, 28/12/2001 - Coluna semanal "Esquina do Aquário" de Sérgio Siqueira, amigo, irmão de fé e assessor de imprensa do Garanhão de Pelotas).
MORAL DA HISTÓRIA - Os anos... Voam.