Naquele entardecer divino, ao Leste do Éden, sem mais o que fazer, estava Adão a cofiar placidamente seus pelos pubianos, mirolhando Eva trocar pela terceira vez naquele dia a mesma folha de parreira, quando Caim chegou aos prantos e aos gritos de uma dor que parecia lancinante:
- Matei Abel! Matei Abel!...
- Bandido, mataste teu irmão?! - bradou furioso o seu pai.
- Ó tu, malfeitor! Mataste teu único irmão! - choramingou Eva.
E, para que a história oficial da vinda da primeira grande família para a Terra não sofresse solução de continuidade, Caim se explicou, antes de dar no pé e ninguém, nunca mais ter notícias dele:
- Mãe, mãezinha; pai, paizinho... Olhaqui, a gente tava brincando de luta. De Batman e Robin. Eu cai por baixo de Abel. Tentei me livrar, mas ele... Ele... Ele me comeu, pô!
Adão olhou para Eva, com cara de quem já tinha avisado que aquele tipo de brincadeira sempre acaba em rompimento de, rompímento de, de... Bolas, a vida é um buraco! Desligou-se daquela mazanza e virou-se para excomungar o filho que sobrou:
- Viado! Robin!
- Viado, um cacete, meu pai. Peguei uma pedra e esborrachei a cabeça dele!
E mais não disse. Com uma lágrima de dor e outra de saudade, saiu em desabalada carreira rumo a lugar nenhum. Nunca mais viu os pais. E nem sequer, viu o sorriso luxurioso, cheio de raiva e de orgulho que se abria na cara de Adão.
MORAL DA HISTÓRIA - Caim pode ter sido o primeiro viado, mas não o primeiro malfeitor. Adão já era bem pior que ele. Começou traçando a própria irmã. Foi o primeiro Serial-Malefactor da História Oficial da Humanidade: passava o dia inteiro fazendo malfeito com a incansável e dadivosa Eva.
RODAPÉ - Milhares e milhares de anos depois Caim fixou residência no princípio do Cone Sul do Mundo. Virou garanhão daquelas redondezas, mas quando isso se deu, já era um pouco tarde.