E então, certa feita - não dista isso muito tempo - estava eu à margem direita do arroio Pelotas, na antiga Colônia de Férias Mazza, junto à ponte que leva ao balneário do Laranjal, às frondes de uma centenária figueira ao lado da casa onde morou e conspirou Bernardino Rodrigues Barcellos, quando fiquei sabendo por Ricardo Ramos - senhor de engenho e arte daquele recanto - como é que nasce, cresce e se eterniza uma daquelas maravilhas verdes profundas que dão muita sombra e poucos figos, porque surgem para dar beleza às cenas da natureza.
Aquelas figueiras nascem do cocô do passarinho que se rebusca nos frutos do butiazeiro. O desforço da diminuta ave cai sobre o solo fértil, junto ao pé de butiá e o tempo se encarrega de dar cria às portentosas árvores que emolduram os Pampas e os caminhos da pátria pequena que tenho no Sul.
A descoberta me deu uma pequena visão do que pode ser um princípio da ideia de eternidade. Quando me cansar dessa vida e pular e andar muito mais do que pulo e ando para este mundo, eu quero ser cremado.
Que me desfaçam em pó, mas que não me desperdicem assim ao léu. Quero que liberem minhas cinzas, não ao vento, menos ainda ao Minuano. Quero que me joguem a um mar, a um rio, a um arroio, a um viveiro - pouco importa, desde que seja em Pelotas e tenha camarão.
Um deles há de me provar. E me parir de novo. E então estarei de volta à terra dos homens de todas as vontades. Com a mesma coisa que tenho hoje na cabeça. E vai ser bom uma vez mais. E o seu Garanhão de Pelotas será eterno.
MORAL DA HISTÓRIA - Todo ateu, porque não consegue provar que Deus não existe, tem seu dia de crédulo e fica a um passo da eternidade.