Era nossa última noite em Mar del Plata, depois de uma semana de sucesso nas piscinas paraolímpicas daquele frio e encantador balneário argh!entino, onde se realizara mais uma etapa classificatória para os Jogos de Atenas, em 2004.
Já de folga e de malas quase prontas, nos reunimos no apartamento de um dos dirigentes da comitiva brasileira e começamos a devorar pizzas, umas atrás das outras e vinhos, uns atrás dos outros, só para matar o tempo até chegar a hora de embarcar, na manhã seguinte, para o aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires.
Eu estava na companhia de três cegos. Piada é que não faltava. Uma bengalada atrás da outra. Cada um tinha direito a quantas histórias e anedotas quisesse contar e ouvir.
E lá veio então, a pergunta que não queria calar:
- Qual é o pior cego? - quis saber o vice-presidente da delegação.
- O pior cego é o que não quer ver - saltou logo, o diretor-geral.
- Nada! - disse o presidente - O pior cego é aquele que quer ver!
E eu, simples assessor de imprensa, vidente mas com uma visão ridícula do ambiente, ao invés de ficar calado, me exibi expelindo uma besteira com bafo de múmia de 2 mil anos atrás:
- Bobagem, o pior cego é aquele que é surdo e mudo também.
Peguei pesado. Pegou mal. Ninguém mais pediu pizza. E acabaram com o vinho falando só coisas sérias. Acho que foi até para que eu pegasse os meus pezinhos e me mandasse logo para o meu quarto.
MORAL DA HISTÓRIA - Quem perde o amigo, mas não perde a piada, corre o risco de perder o emprego também.